Lição 9 - Comentários de Sikberto R. Marks

Lições da Escola Sabatina Mundial – Estudos do Quarto Trimestre de 2011
Tema geral do trimestre: O Evangelho em Gálatas
Estudo nº 09 – Apelo pastoral de Paulo
Semana de 19 a 26 de novembro
Comentário auxiliar elaborado por Sikberto Renaldo Marks, professor titular no curso de Administração de Empresas da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ (Ijuí - RS)
Este comentário é meramente complementar ao estudo da lição original
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Ijuí – Rio Grande do Sul, Brasil

Verso para memorizar: “Eu lhes suplico, irmãos, que se tornem como eu, pois eu me tornei como vocês. Em nada vocês me ofenderam” (Gal. 4:12, NVI).

Introdução de sábado à tarde

Paulo enviou uma mensagem bem dura aos Gálatas. Fez isso para impedir que caíssem em erros que viriam a levá-los à perdição eterna. Mas na mensagem, vez após outra, ele demonstrava que os amava. Foi por isso que escreveu de modo tão enfático, não queria que se perdessem. O modo de escrever dele doeu inclusive em seu coração, mas ou era isso ou eles continuariam num caminho descendente. Quando algo coloca em perigo a nossa vida espiritual, vale tudo para impedir uma derrocada. É a vida eterna que está em jogo.

Paulo talvez não imaginasse, mas hoje estamos estudando o que ele escreveu. Pessoalmente gosto de Paulo, assim como de mais dois personagens bíblicos: Elias e João Batista. Também aprecio os demais, mas estes me servem como referencial para escrever esses comentários, que são para os últimos dias. Estamos em tempos decisivos; não se deve enganar as pessoas. Porém, pode-se ver muitos tratando as pessoas de modo irresponsável, como que dizendo: continuem assim, quando há erros em andamento. Outros inclusive dão exemplo negativo, e logo têm seguidores. Refiro-me ao interior da igreja. Há liberalismo e conformação com o mundanismo. Sabíamos que seria assim, mas isso não quer dizer que devamos simplesmente cruzar os braços. Quem for líder, ou formador de opinião dentro da igreja, como Paulo, tem a responsabilidade de dar o toque de corneta correto. Milhares de vidas, especialmente jovens, estão em grave perigo. E muitos são os que estimulam a ficarem em situação de perigo. Prefiro ser impopular que enganar lisonjeando. Apesar de às vezes ter escrito com relativa dureza, de cada 100 e-mails que recebo, apenas um diz não concordar. São centenas de pessoas que dizem ter sua vida modificada por esses comentários realistas. E não poucos vieram para a igreja por esse meio. É gratificante não ter a consciência pesada por enganar multidões. Paulo é nisso um bom exemplo.

“A lisonja é uma arte pela qual Satanás fica de emboscada a fim de enganar e envaidecer o ser humano com elevados pensamentos quanto a si mesmo. ... A lisonja tem sido o alimento de que muitos de nossos jovens se têm nutrido; e os que têm louvado e lisonjeado têm suposto que estavam fazendo bem; mas têm feito mal. Elogio, lisonja e condescendência têm feito mais no sentido de induzir almas preciosas a falsos caminhos, do que qualquer outro artifício inventado por Satanás. A lisonja faz parte dos métodos do mundo, mas não dos de Cristo. Pela lisonja, pobres criaturas humanas, cheias de fragilidades e enfermidades, chegam a pensar que são eficientes e dignas, e ficam inchadas, em sua mente carnal. Intoxicam-se com a ideia de serem dotadas de talentos acima do que possuem, e sua vida religiosa se desequilibra. A menos que, pela providência de Deus, elas sejam desviadas desses enganos, e se convertam, e aprendam o a-b-c da religião na escola de Cristo, perderão a salvação” (Filhos e Filhas de DEUS, MM, 1956, 73).

1. Primeiro dia: O coração de Paulo

“O apóstolo exortava os gálatas a deixar os falsos guias por quem haviam sido desviados, e a voltar à fé que havia sido acompanhada por inquestionáveis evidências de aprovação divina. Os homens que os haviam procurado desviar de sua fé no evangelho eram hipócritas, de coração não santificado e vida corrupta. Sua religião era feita de um acervo de cerimônias, por cujas práticas esperavam ganhar o favor de Deus. Não tinham interesse num evangelho que requeria obediência à palavra: "Aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus." João 3:3. Sentiam que uma religião baseada em tal doutrina re-queria demasiado sacrifício, e assim se apegavam a seus erros, enganando-se a si e aos ou-tros” (Atos dos Apóstolos, 387).

“A maneira como Paulo viveu entre os gálatas foi tal que ele pôde afirmar mais tarde: "Rogo-vos que sejais como eu." Gál. 4:12. Seus lábios tinham sido tocados com a brasa viva do altar, e ele foi habilitado a sobrepor-se às fraquezas do corpo e a apresentar a Jesus como a única esperança do pecador. Os que o ouviam sabiam que ele havia estado com Jesus. Assistido com o poder do alto, estava capacitado a comparar as coisas espirituais com as espirituais e a demolir as fortalezas de Satanás” (Atos dos Apóstolos, 209).

“Esta é hoje nossa grande necessidade em cada igreja de nosso país. Pois, "se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas". II Cor. 5:17. O que era objetável no caráter é expurgado da alma pelo amor de Jesus. É expelido todo egoísmo; toda inveja, toda maledicência é desarraigada, e é efetuada uma transformação radical no coração. "O fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei." Gál. 5:22 e 23. "É em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz." Tia. 3:18” (E Recebereis Poder, MM, 1999, p. 289).

“Com semelhante guia - um anjo expulso do Céu - esses pretensos sábios da Terra podem inventar teorias fascinantes para obcecar a mente dos homens. Paulo disse aos gálatas: "Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade?" Gál. 3:1. Satanás tem uma mente superior e agentes escolhidos pelos quais opera para exaltar a homens e honrá-los acima de Deus. Mas Deus está revestido de poder; pode tomar os que estão mortos em delitos e pecados e, por meio da operação do Espírito que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, transformar o caráter humano, restituindo à alma a perdida imagem de Deus. Os que creem em Jesus Cristo são transformados de rebeldes contra a lei de Deus em servos obedientes e súditos de Seu reino. São de novo nascidos, regenerados, santificados por meio da verdade” (Fundamentos da Educação Cristã, 332).

2. Segunda: O desafio da transformação

Os gálatas, em seu erro de tornar a obediência à lei no motivo para a salvação, em lugar da fé de JESUS CRISTO, que morreu para nos salvar, estavam, na verdade, dando abertura para uma nova doutrina, e uma nova seita ou no mínimo uma dissidência. Eles estavam num caminho perigoso de afastamento da salvação. O perigo em que eles estavam era preocupante porque, errados, pensavam estar certos, e por isso se esforçavam, sem perceber, por se aprofundarem no erro. Essa é uma condição assustadora, porque a pessoa pode nem mesmo aceitar alguma orientação para entender a situação e então sentir a necessidade de ajuda.

Em nossos dias tais condições ocorrem com frequência. Assim se formam dissidências da Igreja Adventista do Sétimo Dia, e grupos se aprofundam no erro, persistem nele, e já não conseguem facilmente ser orientados para mudar de direção. Essas situações certamente ocorrerão com mais frequência quanto mais próximos do fim estivermos. É a guerra de satanás contra o povo de DEUS. E podem todos crer: estamos na iminência de entrar no calor dessa guerra, para as últimas batalhas, e para a batalha final. Faz parte dessas batalhas o anúncio do evangelho de CRISTO ao mundo inteiro, pois a guerra é espiritual. Do outro lado, todo e qualquer tipo de ação para evitar essa proclamação, e também para impedir que as pessoas entendam a mensagem será utilizada. Inclusive leis opressivas para perseguir quem leva a mensagem da salvação ao mundo. Nisso as exortações de Paulo aos gálatas são válidas para nós. Elas são um tipo de conselho do que devemos fazer.

O que Paulo estava propondo aos gálatas? Que eles “se tornassem como ele se tornou.” Mas o que era Paulo? Ele uma vez já foi Saulo, em extremo zeloso, mas no erro. Ao convite de JESUS, ele mudou de atitude, e passou a ser outra pessoa, agora zelosa pelo que CRISTO orientou. Ele, aos gálatas, não estava pedindo como pediu aos de Tessalônica e aos de Corintos, que agissem como ele agia, seja para ganhar a vida, seja na obediência. Aqui a situação era diferente. Esses gálatas estavam se afastando de DEUS por uma via mui perigosa. Eles estavam criando uma nova religião. E se isso prosperasse, logo mais no mundo existiria um instrumento nas mãos de satanás para não só combater a verdadeira igreja de CRISTO como também, usando o mesmo nome de JESUS CRISTO, levar as pessoas à perdição. Na verdade foi o que aconteceu mais tarde, com o surgimento da Igreja Católica. Então, para evitar que a degeneração do evangelho de CRISTO surgisse naqueles dias, tão cedo, Paulo, um grande defensor, se levantou entre os gálatas (por uma carta, pois estava longe) e disse, parafraseando: sede tais como eu sou, mudem de atitude e sigam a CRISTO como eu resolvi seguir.

Esse apelo é muito útil para os nossos dias.

3. Terça: Eu me tornei como vocês

Paulo estava apelando aos gálatas para que eles se tornassem como ele, pois ele também era como eles. Ou seja, “sede qual eu sou, pois também sou como vocês” (Gál. 4:12). O que ele quis dizer com isso? A resposta está em I Cor. 9:23. Paulo ali disse que se fez tudo para com todos, ou seja, procurou aproximar-se o quanto era permitido (I Cor. 9:21) para alcançar para CRISTO tanto judeus como gentios. Paulo contextualizava suas atividades missionárias. Isso significa que ele vivia de tal maneira e falava e demonstrava que atraía pessoas de culturas diferentes a CRISTO, não a ele nem a qualquer outro foco.

Então, assim como Paulo se tornou atraente a eles, e por isso eles apreciaram o seu evangelho, assim também deveriam eles proceder. Isso quer dizer: esforcem-se para serem apreciados pelas pessoas em nome de CRISTO, por vosso meio, atraindo-as ao Salvador.

“O pastor não deve julgar que toda a verdade tem que ser apresentada aos incrédulos em toda e qualquer ocasião. Ele deve estudar com cuidado quando convém falar, o que dizer, e o que deixar de mencionar. Isso não é usar de engano; é trabalhar como Paulo fazia. "Porque, sendo livre para com todos," escreveu ele aos coríntios, "fiz-me servo de todos, para ganhar ainda mais. E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivera debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivera sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns." I Cor. 9:19-22.

“Paulo não se aproximava dos judeus de maneira a despertar-lhes os preconceitos. Não lhes dizia, a princípio, que deviam crer em Jesus de Nazaré; mas insistia nas profecias que falavam de Cristo, Sua missão e obra. Levava seus ouvintes passo a passo, mostrando-lhes a importância de honrar a lei de Deus. Dava a devida honra à lei cerimonial, mostrando que fora Cristo que instituíra a ordem judaica e o serviço sacrifical. Levava-os, então, até ao primeiro advento do Redentor, e mostrava que, na vida e morte de Cristo, se havia cumprido tudo como estava especificado nesse serviço sacrifical.

“Dos gentios, Paulo se aproximava exaltando a Cristo, e apresentando as exigências da lei. Mostrava como a luz refletida pela cruz do Calvário dava significação e glória a toda a ordem judaica.

“Assim variava o apóstolo sua maneira de trabalhar, adaptando sua mensagem às circunstâncias em que se achava. Depois de paciente trabalho, tinha grande medida de êxito; entretanto, muitos havia que não se convenciam. Alguns há, hoje, que não se convencerão seja qual for o método de apresentar a verdade; e o obreiro de Deus deve estudar cuidadosamente métodos melhores, a fim de não despertar preconceitos nem combatividade. Eis onde alguns têm fracassado. Seguindo suas inclinações naturais, têm fechado portas pelas quais, com outra maneira de agir, poderiam ter encontrado acesso a corações e, por intermédio desses, a outros ainda.

“Os obreiros de Deus devem ser homens de múltiplas facetas; isto é, devem possuir largueza de caráter. Não devem ser homens apegados a uma só ideia, estereotipados em sua maneira de agir, incapazes de ver que sua defesa da verdade deve variar segundo a espécie de pessoas entre as quais trabalham, e as circunstâncias que se lhes deparam” (Obreiros Evangélicos, 117 a 119).

4. Quarta: Naquele tempo e agora

Pelo que a lição apresenta, há indicativos de que Paulo foi à galácia para se tratar, ou pelo menos de alguma forma se restabelecer de alguma doença. E, não perdendo tempo, aproveitou a oportunidade para também pregar ali o evangelho de CRISTO.

Se foi assim, então é de se crer que algum apego diferenciado se formou entre Paulo e aqueles irmãos, porque o teriam acolhido durante uma necessidade especial, em que ele estava fragilizado. Em troca, ele lhes anunciou a salvação. Não se pode saber se quando Paulo chegou a essa região, o teriam acolhido não sendo ainda cristãos, mas isso é possível. Fato é que Paulo e eles tinham uma afinidade especial. Logo é de se imaginar que Paulo também tivesse uma consideração especial para com eles, um carinho mais acentuado por conta dessa situação que não aconteceu em outros lugares. Isso poderia ter levado a uma preocupação mais acentuada, pois tanto ele fora favorecido em situação de necessidade quanto eles receberam a mensagem quando o poderiam ter rejeitado, por causa do preconceito cultural que existia na época, e era muito forte, sobre pessoas doentes. Especialmente em relação a pregadores, esses deviam ter moral, serem saudáveis, para que fossem aceitos, e que sua mensagem tivesse credibilidade.

Então Paulo pregou em condições difíceis a ele e eles aceitaram essa pregação, mesmo ele dando impressão de estar sob o desfavor dos deuses, como eles ainda criam. Hoje em dia o preconceito existe e é forte. Há, por exemplo, preconceito em relação a quem é diferente; preconceito racial, que leva ao racismo; preconceito aos menos favorecidos, que são pobres; preconceito aos que não são diplomados, e assim por diante. Vamos a um exemplo, uma pessoa iletrada, porém consagrada e que tenha o poder de DEUS, e que seja humilde, isto é, que tenha em parte o perfil de JESUS CRISTO. Esse não consegue pregar numa igreja grande e rica. Ao menos é bem difícil. Ou outra pessoa que pregue sobre a reforma da saúde, não é bem recebida por muitos de nosso meio. Imagina então uma pessoa que tenha adoecido por razões alheias ao seu controle, e realizar uma pregação sobre vida saudável. Ainda há preconceito, e muito, em meio ao povo de DEUS, assim como no mundo, e em todos os lugares. Ele é uma das armas de satanás para impedir, ou no mínimo frear a pregação da mensagem ao mundo. E para criar condições ao fanatismo.

5. Quinta: Falando a verdade

Temos no estudo de hoje a necessidade de falar sobre uma prática que popularmente se chama “lei do canalha”. É as ela que Paulo se refere em seu livro, embora não mencione esse nome. A lei do canalha, em geral, funciona assim: “eu faço de conta que estou ensinando e você faz de conta que está aprendendo, e assim prosseguimos.” Ou, havendo um problema sério: “eu faço de conta que não vi nada e você faz de conta que está à vontade com a situação.” Ou, nos ambientes de ensino: “eu faço de conta que ensino e o aluno faz de conta que está aprendendo.” Ela se aplica a todas as situações. Caracteriza-se por “fazer de conta”, ou seja, todos estão se enganando, e ninguém se importa com isso. No caso de Paulo, ele não se valeu dessa lei. Evidentemente ele não era um canalha.

Paulo precisava salvar os gálatas da tendência de retorno ao passado. Eles não estavam retornando ao paganismo anterior, mas indo a práticas que os levariam para a escravidão da lei. E não foi para escravizar que a lei de DEUS foi concedida, mas para libertar. “Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar” (Tiago 1:25 ). No entanto, se tornarmos a lei de DEUS como um conjunto de regras burocráticas que precisam ser cumpridas sem que o nosso caráter seja transformado, isto é, uma lei externa, que não esteja no coração, tornamo-nos escravos de formalidades, não libertos para a vida feliz. E era essa a tendência dos gálatas: virem a se tornar escravos de algo que era exatamente para os libertar.

Alguns judeus cristãos, mas ainda ligados às formalidades de uma obediência cega e não inteligente, ligados a procedimentos que se não bem entendidos se tornam meras ordens sem sentido, estavam querendo levar os gálatas ao ponto onde eles se encontravam quando obedeciam as suas regras e dogmas pagãos. Eles faziam aquelas coisas, tipo rituais pagãos, por meio de uma obediência cega, que não sabiam bem porque deviam ser seguidas. Em geral, era para satisfazer os seus deuses, mas quais as razões? Se aqueles judeus entendessem bem qual era o sentido dos Dez Mandamentos, e das leis cerimoniais, pensariam e agiriam bem diferente do que era a sua prática de apego a regras, não a transformação.

E aqueles judeus (veja bem, não eram todos os judeus cristãos que agiam assim, pois o próprio Paulo era judeu cristão), o faziam com sutilezas, lisonjas e fala sedutora. Nisso aplicavam a tal lei do canalha, ou seja, se faziam de amigos, mas, percebendo ou não, eram traidores. E o seu objetivo era separar os gálatas de Paulo, pois ele era a principal fonte de sabedoria para os libertar daqueles formalismos que essa classe de judeus valorizava acima de tudo.

6. Aplicação do estudo – Sexta-feira, dia da preparação para o santo sábado:

O texto selecionado de Ellen G. White para o estudo de hoje não poderia ser melhor. É esclarecedor e nos deixa felizes. Os gálatas corriam perigo dramático, como estudamos. Mas eles aceitaram as exortações de Paulo, sentiram os sentimentos dele, de como os amava. Temos coisas a aprender desse episódio.

a) Por pior que seja uma situação, sempre é possível, com o poder de DEUS, e muitas vezes por meio de outras pessoas utilizadas por DEUS, sair dela e voltar para o caminho bom.

b) É preciso saber falar ou escrever com o coração quando somos requeridos a exortar, repreender, admoestar ou contestar alguém.

c) Não se pode cair na lei do canalha, em nome da amizade aparente, ficar quietos se alguém está correndo perigo. É preciso agir com sabedoria e de forma planejada, e ajudar a pessoa.

d) Ao se dar um conselho, muitas vezes cabe a nós mesmos tomar conselho com outra pessoa para agir de maneira mais sábia e ponderada, e acertar como Paulo, que conseguiu resolver a situação revertendo para o lugar certo e cortando a tendência.

e) Quem recebe um conselho precisa ser humilde para refletir sobre o que lhe falaram ou escreveram, assim como é mais importante ainda que seja humilde quem exorta. Tem-se visto em publicações, hoje, exortações arrogantes e prepotentes contra pessoas ou movimentos perigosos na igreja. O resultado sempre foi a radicalização em ambos os lados, e o problema só tem aumentado.

f) Em tudo, como fez Paulo, tem que se envolver uma dose maior de amor que as doses dos outros ingredientes.

g) No final da experiência, mesmo tendo havido uma tendência perigosa e fulminante, todos saíram fortalecidos, tanto os gálatas, como Paulo, e outras comunidades que puderam se beneficiar dos fatos bem solucionados, e até nós, nesses últimos dias, que temos um referencial de como se solucionam casos e tendências de alto risco.

h) No que aconteceu, vimos a mão de DEUS agindo por meio de Paulo. Importante é ressaltar que ele agiu de modo humilde, por isso não houve resistência suficiente para rechaçar seus argumentos que foram visivelmente bem duros e incisivos.

Nós vivemos em dias de dissidências, de iniciativas oficiais questionáveis, de mundanismo inundando a igreja, de práticas detestáveis que deixaria horrorizada Ellen G. White. E em muitos desses casos a tendência avança e nada oficialmente é feito. Parece que a lei do canalha está em vigor. Se é feita alguma coisa, ela é tão suave e lerda, que até Paulo ficaria impressionado e preocupado, e entraria logo em ação. E vê-se, em especial, muitos jovens se perdendo dentro da igreja, a olhos vistos, com pais apavorados sem saber o que fazer, pois, enfim, aos olhos de muitos líderes é melhor eles praticarem mundanismo dentro do que fora da igreja. E assim como atinge os jovens, não deixa de fora os adultos. Via de regra, me refiro a jovens porque sou professor dessa faixa etária, dos 20 anos em diante, quando concluem o curso de Administração. Tenho me preocupado intensamente com essa faixa etária. Vejo e sinto a apreensão deles na busca por vencer na vida. Como são receptivos a conselhos! Como desejam acertar! E como erram facilmente! Agora me refiro aos do mundo, então, imagine-se os da igreja. Como são presa fácil dos poderes que os querem controlar para interesses econômicos sedutores nada positivos. Quando nos intervalos das aulas, lá vem eles, para trocar ideias, e querem conhecimento seguro para seus empreendimentos. São poucas as vezes que posso ir ao banheiro ou sair da sala de aula. Eles vêm e querem falar e ouvir. Eles querem vencer, querem muitas vezes iniciar uma empresa, e fazem isso, têm ideias, são criativos, têm energia. Mas também lhes falta a experiência, e essa eles buscam onde puderem. Eles não querem errar, detestam errar, mas querem acertar desde a primeira tentativa em sua vida. Detestam errar, mas são tão vulneráveis! Como são carentes de mentes compreensíveis para lhes dar conselhos e repassar experiência! Como eles necessitam de Paulos, como este que estudamos, para lhes orientar, principalmente antes de cometerem erros às vezes destruidores da sua felicidade!

Um exemplo emocionante é o de uma moça, que tem uns 25 anos. Mora numa cidade pequena. Já controla em suas mãos quatro empresas de ramos diferentes. A última é o jornal da cidade. Ela é inteligente, e tem iniciativa. É uma líder. Frequentemente ela interfere nas aulas para inserir nos debates algo que possa ter proveito para os desafios que enfrenta, ou que surgiram naquele dia. Outros se agregam ao que ela expõe. E assim, a aula se enriquece, ela aprende muito, e outros também. Assim que vem o intervalo da aula noturna, lá vem ela, para continuar a troca de ideias, sempre com perguntas e relatos de elevado nível. Como é agradável lidar com jovens!

De minha parte, como me vejo pequeno diante da situação alarmante que se forma com a Nova Ordem Mundial e a Globalização, essa a principal ingrediente da Nova Ordem! E como faltam pessoas sinceras e sábias para interagir com esses jovens, da igreja ou de fora, onde possam se amparar para obter experiência! Enfim, como é difícil ser jovem hoje em dia. Lisonjeadores tem à vontade. Mas conselheiros sinceros e seguros, ao estilo de Paulo, bem poucos.

escrito entre 19 e 25/10/2011

revisado em 26/10/2011

corrigido por Jair Bezerra

O apelo pastoral de Paulo - Comentários da Lição 9

Lição 09 - 19 a 25 de novembro de 2011
(Comentários do irmão César Pagani)

VERSO EM DESTAQUE: “Amigos, imploro-lhes que sejam como eu sou; pois eu também me tornei como vocês.” (Gl 4:12)
As pessoas são incalculavelmente valiosas para Jesus. Embora Ele não ordene mimar ninguém e nem compactuar com fraquezas e pecados do povo, requer que Seus servos preguem a sã doutrina.

Temos um quadro exemplar da dupla face (não duas caras, entendamos bem) do zeloso líder: “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. Quanto aos homens idosos, [dize] que sejam temperantes, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na constância. Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, [dize] que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada. Quanto aos moços, de igual modo, exorta-os [incentiva-os] para que, em todas as coisas, sejam criteriosos. Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito.” (Tt 2:1-8)

E mais: “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina.” (II Tm 4:2)

DOMINGO - O coração de Paulo

A linha de abordagem de Paulo no capítulo quatr0 abrange agora a expressão íntima do que ele sentia pelos gálatas, apesar da força da repreensão que lhes dirigira. Como imitador de Cristo que era, Paulo “levava desaforo para casa”. Sua magnanimidade atingira o ponto de chegar a possuir a virtude cristã do não-ressentimento.

Ele diz aos irmãos que, embora fosse uma alta autoridade na igreja, era como qualquer crente e não um orgulhoso pastor que mantém distância de suas ovelhas problemáticas.

A enfermidade – Não é indicado que tipo de enfermidade ele se refere ao citá-la em Gl 4:14. É de nosso conhecimento que Paulo tinha um problema oftalmológico crônico oriundo de seu encontro com o Cristo fulgurante na estrada de Damasco. Porém, é possível que outro tipo de doença o tenha acometido por causa do excessivo desgaste físico e mental. “As provações, as ansiedades que Paulo havia suportado despojaram-no de suas forças físicas. Assaltavam-no as enfermidades da idade avançada. Pressentia que estava a fazer sua última obra; e, abreviando-se o tempo de seu trabalho, seus esforços se tornaram mais intensos. Parecia não haver limite para o seu zelo. Resoluto no propósito, pronto nas ações, forte na fé, viajava de uma igreja a outra em muitas terras, e procurava por todos os meios ao seu alcance fortalecer as mãos dos crentes, para que pudessem efetuar um trabalho fiel na conquista de almas para Jesus, a fim de que, nos tempos probantes em que então se achavam mesmo a entrar, permanecessem firmes no evangelho, dando fiel testemunho de Cristo.” AA, 488.

A despeito de ter pregado o evangelho aos gálatas em condições enfermiças, ele não foi desprezado ou minimizado em seu ministério. Pelo contrário, os crentes gálatas ouviram Paulo pregar como se um anjo de Deus lhes estivesse falando (Gl 4:14) ou mesmo o próprio Jesus.

O apóstolo mostrou-se sensibilizado ao dizer que tinha certeza de que suas ovelhas daquela cidade o amavam. “Vocês teriam arrancado os próprios olhos para me dar.” (v 15) Essa declaração pode, talvez, indicar que a cegueira parcial de Paulo era a enfermidade referida.

Que mudança espantosa foi aquela que os heréticos judaizantes causaram e que esmagavam a alma do apóstolo?

Ao ler com pouca atenção certos textos de Paulo, muita gente imagina-o como um líder espiritual severo, crítico e frio. Nada mais longe da verdade! Ele não recuava um milímetro em questão de princípios, mas desdobrava-se em zelo e preocupação pelo destino eterno dos que haviam aceitado a Cristo mediante seus esforços.

Para tentar enfatizar ainda mais seu amor pelos gálatas, o grande evangelista usa a figura de uma parturiente em pleno trabalho de dar a luz. As lancinantes dores de parto representavam a ansiedade e o extremo esforço que Paulo fazia para ver Cristo formado neles (v. 19). Ele não se conformava com a ação dos judaizantes que estavam procurando “abortar” Cristo. Esses falsos ensinadores com seu evangelho espúrio queriam destruir o trabalho de Paulo e fascinar os crentes para que os seguissem e a suas heresias.

O amor pastoral do apóstolo não podia tolerar em hipótese alguma que isso acontecesse. Ele faria todas as tentativas possíveis para impedir a ruína de suas queridas ovelhas. Seu desejo incontido era estar presente à Galácia e dirigir-lhes palavras firmes e reprovadoras do pecado, porém ternas, afetuosas e empapadas do amor de Cristo (v. 20)

O coração de um pastor repleto do Espírito - “O coração deles [Paulo e Barnabé] estava cheio de fervente amor pelas almas a perecer. Como fiéis pastores na busca da ovelha perdida, não abrigavam o pensamento de facilidades ou conveniências próprias. Esquecidos de si mesmos, não fraquejavam quando cansados, famintos ou com frio. Eles tinham em vista um único objetivo - a salvação dos que vagueavam distantes do redil.” AA, 169.

O segredo do amoroso coração de Paulo era porque ele possuía, como bem o declarou em I Co 2:16, “a mente de Cristo” (e Seu coração também).

Compreendendo o cuidado de nossos pastores distritais

Não poucos membros da igreja “não querem nem saber” o que um pastor passa para apascentar as igrejas que lhes são confiadas (incluam-se os pastores dirigentes administrativos). Pensam que a vida do ministro é fácil, seu trabalho ricamente remunerado, que só passam o tempo preparando sermões e estudos bíblicos e rodam a semana inteira fazendo “passeios” por seu distrito em visitas meramente sociais.

Não digo que não haja pastores descomprometidos. Isso equivaleria a dizer que não há pecadores no ministério. “Há pecadores no pastorado. Não estão eles porfiando por entrar pela porta estreita. Deus não trabalha com eles, pois não pode suportar a presença do pecado.” TM, 145.

O Pr. Ermano Bassi dizia que “existem os profissionais do púlpito e os vocacionais do púlpito”. Porém, devemos honrar os ministros que se esfalfam e lutam com todas as suas forças e conhecimento para apresentar a Jesus uma igreja sem mácula, nem ruga, nem coisa alguma que contamine. Não nos esqueçamos que muitos, muitos mesmo, têm o “coração de Paulo”.

SEGUNDA  - O desafio da transformação

Imitadores do imitador do original – Essa é uma “pirataria” abençoada e o Proprietário dos direitos autorais faz questão de que milhares de milhares de cópias sejam feitas e espalhadas pelo mundo. Ao Paulo usar o substantivo grego mimetes, traduzido por imitadores, remete-nos a outro conceito que é o do mimetismo. O mimetismo é um recurso do reino animal através do qual muitas espécies se ajustam ao ambiente natural ou o imitam de tal forma, que os predadores não podem localizá-los. Quando o animal se sente ameaçado por ataques, ele utiliza a cor e a forma ambiental e disfarça-se. Veja o exemplo do inseto-folha ao lado.

Imitar a Cristo é revestir-se dEle e utilizar a cor e o ambiente do Céu para se proteger do astuto predador de almas. O arquiinimigo nada pode contra os que imitam a Jesus. Philips traduziu I Co 11:1 de forma muito enfática: “Copiem-me, meus irmãos, como eu copio o próprio Cristo.”

O alvo da transformação é reproduzir o caráter de Cristo. Como bem expressa o título de hoje, essa tarefa é um desafio; sim, e de longo termo. Podemos afirmar que essa é uma expressão alternativa de santificação. Santificação é imitar o Modelo que nos foi mostrado no Monte das Oliveiras (Getsêmani) e no Monte Calvário.

É curioso que Paulo, em Fp 3:17, recomendou que os crentes filipenses observassem a vida de outros crentes que seguiam esse grande pastor imitador de Cristo. Assim, segue-se que a abrangência da obra transformadora tem de ser congregacional. Não basta que um crente imite a Cristo e outro não. Esse é um princípio pelo qual todos nós precisamos ser dirigidos.

Para imitar, precisamos observar atentamente o modelo. Lembramo-nos do tempo em que estávamos na Escola de Belas-Artes. Nosso mestre de artes, o Prof. George Nasturel, grande artista romeno de fama internacional, dizia-nos para observar bem o modelo a desenhar. Ele nos ensinava como captar com mais exatidão os traços da figura exposta, comparando uns elementos com outros. Comparemo-nos com o caráter de Cristo e na poderosa influência do Espírito Santo, oremos para ser transformados segundo Ele.

Onde está o Modelo? - Cristo Jesus revelou-Se na Palavra de Deus desde a Queda. Ali vemos o Deus perdoador, pronto a resgatar, pronto a infundir fé e esperança, a tratar com bondade infinita os que erram; o Deus paciente, longânimo, tardio em iras e grande em beneficência e verdade. Vemos também o Deus justo e perfeito em Seus caminhos. O Espírito do Senhor torna eficaz a obra de imitação. “Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai que está no Céu.” Ou seja, imitem a Deus.

Processo de longo prazo - Paulo confessa em Fp 3:13, 14 que ainda não alcançara o máximo de perfeição ou a estatura completa de Cristo – em outros termos, a “imitação perfeita” de Cristo: “Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.”

A santa ambição do Modelo Perfeito - “Devem [os crentes] ter a ambição de ser excelentes em tudo que é útil, elevado e nobre. Contemplem eles a Cristo como o modelo segundo o qual devem ser moldados. A santa ambição que Ele revelou em Sua vida devem eles nutrir - a ambição de tornar o mundo melhor por eles nele terem vivido. Tal é a obra a que são chamados.” CBV, 398.

“Dominados pelo Espírito, eles viam a Cristo em seus irmãos. Só um interesse prevalecia. Um elemento de imitação absorveu todos os outros - ser semelhante a Cristo, fazer as obras de Cristo. O sincero fervor sentido era expresso por meio de afetuosa prestimosidade, palavras bondosas e ações altruístas. Todos se esforçavam para ver quem podia fazer o máximo pelo desenvolvimento do reino de Cristo.” E Recebereis Poder, 288.

TERÇA - Eu me tornei como vocês

Livre de todos? Escravo de todos? O que Paulo quer dizer ao usar ideias opostas? Primeiramente, o autor da epístola está afirmando sua condição de cidadão romano livre. Ele não era um escravo ligado a nenhum senhor. Seus direitos civis eram todos respeitados. Podia ir e vir, comprar e vender, expressar suas ideias, escrever suas opiniões, discutir, realizar todos os atos previstos nas leis sem sofrer qualquer agravo.

A “escravidão” de que Paulo fala é metafórica e retórica, para dar maior ênfase ao seu compromisso assumido com Cristo de ser o pregador dos gentios.

Judeu para com os judeus; sem lei para com os sem lei, fraco para com os fracos; tudo para com todos. Paulo contextualizava suas ações e pregações dependendo do grupo a que se dirigia. “Assim como também eu procuro, em tudo, ser agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos.” (I Co 10:33).

Talvez uma experiência ocorrida há muitos anos na Central Paulistana possa dar uma ideia da adaptabilidade do evangelista ao contexto cultural, social e étnico do campo evangelístico. Fazíamos parte do grupo de adventistas de origem judaica (Centro de Estudos Judaicos) voltados para o trabalho especial de pregar aos judeus. Como sabíamos que certas atitudes e termos cristãos poderiam bloquear o acesso aos de Israel, pusemos em ação um plano de comunicação contextualizado. Através dele substituíamos o “adventistês” por outros termos mais acessíveis. Ao falarmos do pastor da igreja, dizíamos o “moré” (ou professor); para o batismo, usávamos a palavra “mikvé” (banho ritual); Jesus era “Yeoshua ben Youseph” (Jesus, filho de José) ou “mashiach” (Messias); igreja era “beit knesset” ou lugar de reunião, “tanach” era a Bíblia, etc. Trabalhávamos a partir de pontos de fé comuns, evitando colisões e crenças polêmicas.

Hoje temos na Associação Paulistana duas unidades contextualizadas para evangelismo dos judeus e dos islâmicos: Comunidade Judaica e Comunidade Árabe.

Isso não quer dizer comprometimento de princípios ou camuflagem doutrinária. Continuamos mantendo nossa identidade, respeitando a cultura das pessoas com quem nos relacionamos. O Pr. João Cláudio Chaguri, em sua tese de mestrado, expôs com maestria como realizar um evangelismo contextualizado com os árabes. Mediante um plano sábio e cuidadoso, muitos fiéis do Islã se interessaram em aprender sobre “Isa”, Jesus. Na década de 70, o Pr. Benoni de Oliveira, de origem judaica, trabalhava dentro de um esquema apropriado para levar Cristo a seus compatriotas no Brasil.

Quando Hesselgrave afirma que contextualizar é tentar comunicar fielmente a mensagem da Palavra de Deus, de maneira significativa e aplicável nos distintos contextos, sejam culturais ou existenciais, ele expõe um desafio à Igreja de Cristo: comunicar o Evangelho de forma teologicamente fiel e ao mesmo tempo humanamente inteligível e relevante. E este talvez seja o maior desafio do estudo e compreensão quando tratamos da teologia da contextualização. Historicamente, a ausência de uma teologia bíblica de contextualização tem gerado duas consequências desastrosas no movimento missionário mundial: o sincretismo religioso e o nominalismo evangélico.

“O pastor não deve julgar que toda a verdade tem que ser apresentada aos incrédulos em toda e qualquer ocasião. Ele deve estudar com cuidado quando convém falar, o que dizer, e o que deixar de mencionar. Isso não é usar de engano; é trabalhar como Paulo fazia. ‘Porque, sendo livre para com todos,’ escreveu ele aos coríntios, ‘fiz-me servo de todos, para ganhar ainda mais. E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivera debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivera sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns.’ I Co 9:19-22.

“Paulo não se aproximava dos judeus de maneira a despertar-lhes os preconceitos. Não lhes dizia, a princípio, que deviam crer em Jesus de Nazaré; mas insistia nas profecias que falavam de Cristo, Sua missão e obra. Levava seus ouvintes passo a passo, mostrando-lhes a importância de honrar a lei de Deus. Dava a devida honra à lei cerimonial, mostrando que fora Cristo que instituíra a ordem judaica e o serviço sacrifical. Levava-os, então, até ao primeiro advento do Redentor, e mostrava que, na vida e morte de Cristo, se havia cumprido tudo como estava especificado nesse serviço sacrifical.

“Dos gentios, Paulo se aproximava exaltando a Cristo e apresentando as exigências da lei. Mostrava como a luz refletida pela cruz do Calvário dava significação e glória a toda a ordem judaica.

“Assim variava o apóstolo sua maneira de trabalhar, adaptando sua mensagem às circunstâncias em que se achava.” OE, 117, 118.

QUARTA  - Naquele tempo e agora

A primeira incursão missionária de Paulo na Galácia (província romana situada mais ou menos onde está a Turquia hoje) custou muitos sacrifícios ao apóstolo. Em sua carta aos gálatas ele menciona uma enfermidade física (ponto que já abordamos no domingo).

Paulo considerava que sua condição na época era tal que ele poderia causar impacto negativo nos habitantes locais. Não sabemos se a enfermidade havia afetado sua aparência física, que é muito importante para um pregador. O fato é que os gálatas o receberam muito bem e o trataram com muita reverência (supomos que o apóstolo estaria com cerca de 60 anos de idade).

Os elementos postos na frase do verso 14 do capítulo 4 (“como anjo de Deus, como o próprio Cristo Jesus”) demonstram o profundo interesse nos sermões paulinos e em sua autoridade.

É-nos por vezes que impossível aceitar o fato de que os servos de Deus mais consagrados precisam sofrer tanto para realizar o trabalho divino. Jesus foi o maior de todos os sofredores. Seus primeiros apóstolos padeceram aflições, humilhações e até martírios. Por que Deus “não facilita” o ministério de Seus servos e permite que Satanás lhes faça implacável oposição?

Deus disse a Ananias antes de enviá-lo a consolar Saulo: “Vai, porque este é para Mim um instrumento escolhido para levar o Meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; pois Eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo Meu nome.” (At 9:15, 16)

E Paulo, após muitas doridas experiências, declarou com alegria: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.” (II Co 12:10) “Declarou o apóstolo: ‘Quando estou fraco, então, sou forte.’ II Co 12:10. Reconhecendo sua fraqueza, apegou-se, pela fé, a Jesus Cristo e Sua graça...” CES, 91.

Ele bem compreendia que Deus estava dirigindo totalmente sua vida e que os “açoites” que recebia resultavam em proveito espiritual e, maiormente, do evangelho.

“O fato de sermos chamados a suportar a prova mostra que o Senhor Jesus vê em nós alguma coisa de precioso que deseja desenvolver. Se nada visse em nós que pudesse glorificar Seu nome, não desperdiçaria tempo a depurar-nos. Não lança pedras sem valor na Sua fornalha. É o minério precioso que Ele depura. O ferreiro põe o ferro e aço no fogo, a fim de provar que qualidade de metais são. O Senhor permite que Seus eleitos sejam postos na fornalha da aflição para lhes provar a têmpera e ver se podem ser formados para a Sua obra.” CBV, 471.

Bem, mas o que queremos discutir agora é a mudança de procedimento dos gálatas, após a desastrosa visita dos judaizantes de Jerusalém. Havia mal velada indisposição dos antes admirados seguidores contra aquele que uma vez amaram e seguiram. Os ciumentos judeus professadamente cristãos não se conformavam com a eminência de Paulo entre os gentios, e almejavam destruir não apenas sua imagem e reputação, mas o puro evangelho que pregava. Conseguiram seu intento até certo ponto. Porém, o coração pastoral de Paulo não os odiava por isso. Tinha, sim, profunda compaixão por aquelas almas que lhe custaram tanto sofrimento e labor, agora desviadas por agentes do diabo infiltrados no ministério.

Se há algo que retalha um coração pastoral esse é o desvio de suas ovelhas. Pastorear congregações custa muito estresse, ansiedade, cuidados e trabalhos extras. O pior é quando o pastor encontra oposição sistemática entre os próprios companheiros de liderança e membros da comissão da igreja.

No texto a seguir podemos ter um exemplo do que estamos nos referindo na experiência do grande pregador Guilherme Müller: “Muitos pastores [das várias denominações] não aceitaram, eles próprios, a salvadora mensagem, e por vezes criavam obstáculo aos que a aceitavam. O sangue de almas repousa sobre eles. Pregadores e povo uniram-se na oposição à mensagem do Céu. Perseguiram Guilherme Miller e os que a ele se uniram no trabalho. Falsidades foram postas a circular para prejudicar-lhe a influência. Em diferentes ocasiões, depois de haver declarado com franqueza o conselho de Deus, aplicando cortantes verdades ao coração de seus ouvintes, grande ira ergueu-se contra ele e, ao deixar o local das reuniões, pessoas o seguiram para matá-lo. Não obstante, anjos de Deus foram enviados para lhe preservar a vida, retirando-o em segurança de entre a furiosa turba.” Spiritual Gifts, vol. 1, pág. 136.

Cabe muito bem em nossos dias a exortação encontrada em Hb 13:17: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.”

QUIN TA  - Falando a verdade

“Tenho-me, pois, tornado vosso inimigo, porque vos disse a verdade?” (Gl 4:16 – Tradução Brasileira)

“Jura dizer a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade?” Este é o juramento lapidar apresentado a testemunhas, depoentes e réus perante as cortes de justiça dos EUA, com a mão direita posta sobre a Bíblia e a esquerda erguida para os céus.

É exatamente isso que exige o nono mandamento da Lei do Senhor: “Não dirás falso testemunho” ou “Não dirás mentiras ou a mínima coisa que fuja da verdade absoluta estabelecida pela justiça divina.”

O pregador cristão tem de sempre dizer a verdade, pois ele é representante de Cristo, a própria Verdade. Aristóteles disse certa vez de sua amizade por Platão: “Platão é meu amigo, mas a verdade é mais minha amiga.”

Se a verdade deve ser dita aos inimigos, que se dirá dos amigos? Paulo, o denodado pastor de almas, disse aos gálatas a pura verdade para despertá-los do torpor espiritual em que as mentiras dos judaizantes os lançaram. “Insensatos gálatas!...” não é nada agradável de se ouvir sendo um gálata. Mas, não era a verdade? Não haviam eles cometido loucura ao desviar-se rapidamente da verdade do Cristo crucificado e ressurreto para os formais judaicos?

“Que luz há na Palavra! Em Isaías lemos: ‘Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão.’ Is 58:1. Essa é a obra que devemos fazer. Notai a expressão: ‘Meu povo.’ Por que haveria o profeta de dizer ‘Meu povo’? Eles não estavam andando segundo a luz da verdade, mas Deus desejava salvá-los dos seus pecados. A verdade devia ser-lhes novamente levada em sua simplicidade.” BS, 77.

Quando o povo de Deus se desvia dos mandamentos e segue as normas e costumes do mundo, os atalaias do púlpito precisam “anunciar ao Meu povo a sua transgressão”. É uma impostergável injunção ou ordem divina: “Mas tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer deixem de ouvir.” (Ez 2:7)

Por amor aos gálatas Paulo viu-se impelido a sacudi-los de sua apostasia. Pv 27:5 diz: “Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto.”

Não é dever agradável ao profeta, ao pregador, ao pastor, ter de repreender alguém do povo de Deus ou mesmo congregações inteiras.

Paulo, por acaso, foi inimigo de Pedro quando o repreendeu na cara por dissimular seu comportamento perante os judeus de Jerusalém, escandalizando os gentios de Antioquia? Pedro foi grato a Paulo por dizer-lhe francamente a verdade. Em sua segunda carta, capítulo três, verso 15, ele o chama “amado irmão Paulo”.

Mas a verdade deve ser dita no espírito de Cristo. “De todos os povos da Terra, deviam ser os reformadores os mais abnegados, os mais bondosos, os mais corteses. Dever-se-ia ver em seus atos a verdadeira bondade dos atos desinteressados. O obreiro que manifesta falta de cortesia, que mostra impaciência ante a ignorância dos outros ou por se acharem extraviados, que fala bruscamente ou procede sem reflexão, pode cerrar a porta de corações por tal maneira que nunca mais lhes seja dado conquistá-los. Como o orvalho e a chuva branda caem nas ressequidas plantas, assim deixai cair suavemente as palavras quando procurais desviar os homens de seus erros. O plano de Deus é conquistar primeiro o coração. Devemos falar a verdade com amor, confiando nEle quanto ao poder para a reforma da vida. O Espírito Santo aplicará ao coração a palavra proferida com amor.” CBV, 157.

Mais adiante, no curso de sua exposição registrada no capítulo 4, Paulo acusa os judaizantes de hipocrisia estudada, visando a desviar os gálatas de seu verdadeiro pastor. Era-lhe penoso não poder combater os deturpadores da verdade com seus cortantes argumentos bíblicos. Não para derrotá-los e envergonhá-los, mas para convertê-los e levá-los a pensar melhor na oportunidade que estavam perdendo de não pregar Cristo e Esse crucificado.

Ele ansiava estar pessoalmente na Galácia para falar em suaves tons de amor mesmo as verdades mais probantes. Sabia que as cartas, mesmo inspiradas e por mais bem escritas que sejam, não podem apresentar inflexões, tonalidades de reais sentimentos e mais doçura do que frases de amor ditas face a face, inda que fossem repreensivas.

Conselho final – “Falai como Ele falaria, agi como Ele haveria de agir. Revelai constantemente a doçura de Seu caráter. Manifestai aquela opulência de amor que se acha na base de todos os Seus ensinos e de todo o Seu trato com os homens. Os mais humildes obreiros, em cooperação com Cristo, podem tocar cordas cujas vibrações ressoarão até aos extremos da Terra, e ecoarão harmoniosamente através dos séculos eternos.” CBV, 159.
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