Comentários Lição 3 - Tessalônica nos dias de Paulo (Prof. César)



14 a 20 de Julho de 2012

Verso Principal
Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível.(1Co 9:19)

              Hoje ela é Salônica e se encontra no mesmo lugar onde Paulo esteve. Seu nome original era Thermae ou “Fontes de Águas Quentes”, quando Cassandro, um dos sucessores de Alexandre Magno, fez dela a capital de seu reino em 315 a.C. e lhe mudou o nome para Tessalônica, em honra à sua esposa, irmã de Alexandre. Essa cidade conheceu seu pico de progresso durante o império romano, sob cujo domínio caiu após a Batalha de Pidna (168 a.C.). Quando a província da Macedônia foi organizada (146 a.C.), Tessalônica converteu-se em sua capital. 

              Depois da batalha de Filipos (42 a.C.), Tessalônica chegou a ser uma cidade livre, administrada por magistrados, que portavam o título de politaris ou governantes da cidade, atribuição essa que foi traduzida como "autoridades da cidade” em At 17:8.  Essa expressão aparece apoiada também por inscrições em grego encontradas no Arco de Tessalônica. 

Ela era um importante centro comercial e fortaleza militar localizada na Via Ignácia, estrada que cruzava a Macedônia de Leste a Oeste.  Paulo a visitou depois de ter estado em Filipos, durante sua segunda viagem missionária.  O apóstolo também a visitou mais uma vez e também a terceira, durante sua derradeira viagem missionária.  Duas de suas cartas, das 14 que escreveu, foram dirigidas a essa igreja.
             
              A despeito de ser um pastor, Paulo não tinha remuneração da obra. Foi justamente nessa cidade que o Dr. Paulo de Tarso, advogado e político judeu, não se importou em aprender a fazer tendas como seu ganha-pão (At 18:3). Consciencioso ministro, sabendo que a igreja infante não podia pagar-lhe um salário, apesar de saber de seu direito como homem que trabalhava no altar, de receber daqueles a quem ministrava, abriu mão para não ser pesado a ninguém. Essa priorização da obra de Cristo da parte de Paulo é impressionante. O que lhe importava era ganhar para seu Amado Senhor o maior número possível de pessoas, fossem judias ou gregas. 

DOMINGO
Os romanos chegam a Tessalônica
                O breve cenário histórico provido pela lição dá alguma ideia da conjuntura socioeconômica de Tessalônica nos dias de Paulo.

O comentário auxiliar desta lição diz: “A ‘paz’ de Roma veio, todavia, a mui alto custo – violência, dominação, exploração dos pobres e das classes trabalhadoras, e morte por crucifixão a todo aquele que desafiasse ou desacatasse o poder de Roma.” Isso também era verdadeiro para Tessalônica.

Uma das coisas que Roma nunca abriu mão foi dos impostos sobre os estados e cidades de suas províncias e colônias. Ora, desde tempos imemoriais os impostos sempre foram repassados para produtos e serviços, por vezes, quando abusivos, gerando economia inflacionária. Note que o autor da lição fala em transtornos econômicos, opressão dos pobres pelas classes dominantes, impotência política, inflação, níveis reduzidos de vida e outros entraves gerados por economias desarticuladas.
             
              Inevitavelmente ligadas aos problemas econômicos estavam as crises sociais. Um povo com qualidade de vida inferior não suporta por muito tempo a opressão sem dar sinais de reação. O descontentamento geral se manifestava em todas as classes, com reflexos comportamentais negativos.

Paulo teve de enfrentar uma conjuntura não muito animadora para sua missão evangelística. Porém, sua missiologia não admitia a espera de “tempos melhores”. Ele tinha uma dívida (Rm 1:14) com os gentios e tinha de pregar, não importava quão adversas poderiam ser as condições.

Fosse Paulo um pusilânime e ele daria uma desculpa a mais para não trabalhar de pronto naquela cidade. Afinal, ele ainda estava convalescendo da tremenda surra que tomara em Filipos, dos efeitos psíquicos de um aprisionamento injusto e temerário, e da reação ingrata de seu próprio povo.

Inteligentemente, Paulo ofereceu um caminho pacífico e altamente compensador como alternativa aos sofrimentos das classes pobres e à enfatuação das classes dominantes, porém, insatisfeitas com a fugaz felicidade mundana. Um Salvador maravilhoso predito por mais de 300 profecias do Antigo Testamento, que satisfaria todas as necessidades da alma atribulada e outorgaria esperança verdadeira.

O Senhor de Paulo, a quem ele pregava com denodo e muito amor, não tivera ambiente melhor para realizar Sua obra. Pelo contrário, além das restrições legais e políticas romanas, nosso Senhor teve de defrontar oposição de Seu próprio povo, das invejosas autoridades e políticos interesseiros.

             Quando mais adverso o campo missionário, maior o poder conferido pelo Espírito Santo aos pregadores do Evangelho. Nada pode deter-lhe a marcha ascendente, porque Jesus garantiu que ele seria pregado a todo o mundo, em testemunho a todas as nações.
                

Localização de Tessalônica, hoje Salônica, na moderna Grécia. Abaixo, vista aérea da cidade.


                SEGUNDA  
 Uma resposta pagã a Roma
               
                Tessalônica era uma cidade em crise em virtude da política romana e dos desmandos da administração pública. O povo não tinha como pôr-se em armas para levante popular a fim de exigir mudanças e melhores condições de vida.                  
               
               O culto de Cabirus, abordado pela lição, era o típico culto de personalidade ausente. Há até a abordagem de que Cabirus não passou de um personagem fictício, do tipo heroico e defensor dos  oprimidos. Na figura de Cabirus o povo trabalhador grego procurava segurança, liberdade e cumprimentos de suas promessas. Nos tempos do imperador Augusto, por alguma razão que ninguém conhece, o herói foi aceito posteriormente pela elite da cidade e “canonizado” para fazer parte do culto oficial. Dizia-se pela cidade que Cabirus atendia mais aos pedidos e ofertas dos ricos. Como a elite romana negava igualdade democrática à população nativa, privilegiando-se com as benesses políticas, os gregos se revoltavam por lhes serem negados os privilégios de cidadania por direito de nascimento. Essa “fina flor” romana controlava as fontes de renda.
              
               O escritor Jerome Murphy-O’Connor diz:”Diante dessa situação fica fácil entender como a pregação de Paulo era atraente para os que não tinham nada. Sua pregação correspondia, em grandes linhas, a uma teologia já considerada perdida. Paulo anunciava um jovem homem assassinado, ressuscitado dos mortos realmente, e que, por isso mesmo, tinha o poder de oferecer todos os bens no momento presente. Além disso, introduziria todos os seus seguidores num mundo completamente diferente.
              
               “Não é difícil imaginar como a proposta de um novo ‘deus’ que transformaria radicalmente a situação dos não privilegiados, seria vista pelas autoridades municipais como subversiva. Se movimentos como aquele criassem raízes e crescessem, ameaçariam os alicerces da sociedade. Mesmo que o crucificado Jesus de Nazaré pudesse parecer ridículo como um ’deus’ aos sofisticados romanos ou gregos, a classe governamental era suficientemente astuta para reconhecer o perigo de um ‘deus’ fora das estruturas da religião civil. Poderia se transformar no centro de aglutinamento do proletariado sempre instável, o eterno insatisfeito, por definição. A mensagem de Jesus poderia ser a lupa que focalizasse a luz do Sol sobre o ponto inflamável daquelas reivindicações frustradas. Sob sua inspiração, a onda de descontentamentos poderia se transformar em ação revolucionária.” Paulo de Tarso: Sua História, pp. 94, 95.                           
                 
TERÇA      
O evangelho como ponto de contato
          
                É maravilhoso o “senso de oportunidade de Deus”. Ele coordenou tudo para que Paulo chegasse à cidade justamente quando as disposições do povo estavam propícias à incursão do Evangelho. Isso nos fez pensar no estupendo e divino trabalho de distribuição do livro A Grande Esperança. Por que só recentemente a Associação Geral da IASD formulou planos para a disseminação mundial em massa do espetacular livro? Falta de visão anterior, ausência de arrojo missionário, dificuldades de recursos de financiamento? Não! Acreditamos que neste ponto de tempo em que vivemos, as almas estão mais propícias à recepção da tríplice mensagem angélica, assim como aconteceu com os tessalonicenses nos dias de Paulo.
               
                 Sabemos da importância das estratégias missionárias para o sucesso da pregação. Dotado pelo Espírito, Paulo usava sua brilhante inteligência para fazer as abordagens missionárias. Planejava, organizava, analisava, argumentava e observava com atenção a reação do público que o ouvia.
           
           Estudemos em 1Co 9:19-27 a tática paulina de contextualização. Segundo o Espírito de Profecia: “Paulo não se aproximava dos judeus de maneira a despertar-lhes os preconceitos. Não lhes dizia, a princípio, que deviam crer em Jesus de Nazaré; mas insistia nas profecias que falavam de Cristo, Sua missão e obra. Levava seus ouvintes passo a passo, mostrando-lhes a importância de honrar a lei de Deus. Dava a devida honra à lei cerimonial, mostrando que fora Cristo que instituíra a ordem judaica e o serviço sacrifical. Levava-os, então, até ao primeiro advento do Redentor, e mostrava que, na vida e morte de Cristo, se havia cumprido tudo como estava especificado nesse serviço sacrifical. 

“Dos gentios, Paulo se aproximava exaltando a Cristo, e apresentando as exigências da lei. Mostrava como a luz refletida pela cruz do Calvário dava significação e glória a toda a ordem judaica. 
              
             Assim variava o apóstolo sua maneira de trabalhar, adaptando sua mensagem às circunstâncias em que se achava. Depois de paciente trabalho, tinha grande medida de êxito; entretanto, muitos havia que não se convenciam. Alguns há, hoje, que não se convencerão seja qual for o método de apresentar a verdade; e o obreiro de Deus deve estudar cuidadosamente métodos melhores, a fim de não despertar preconceitos nem combatividade. Eis onde alguns têm fracassado. Seguindo suas inclinações naturais, têm fechado portas pelas quais, com outra maneira de agir, poderiam ter encontrado acesso a corações e, por intermédio desses, a outros ainda. 

“Os obreiros de Deus devem ser homens de múltiplas facetas; isto é, devem possuir largueza de caráter. Não devem ser homens apegados a uma só ideia, estereotipados em sua maneira de agir, incapazes de ver que sua defesa da verdade deve variar segundo a espécie de pessoas entre as quais trabalham, e as circunstâncias que se lhes deparam.”                 OE, 118, 119.

 A título de ilustração, lembramo-nos de uma experiência de como não fazer evangelismo. Logo que a CASA se mudou para Tatuí, lá pelos idos de 89-90, os adventistas locais tomaram impulso e começaram a trabalhar com mais energia com os moradores da cidade. Uma irmã, que já havia até frequentado a Central Paulistana, muito “zelosa” (as aspas são bem propositais) e “impetuosa” em seu evangelismo saía aos sábados para visitar alguns tatuianos. Era comum eles fazerem churrascadas à tarde. Essa irmã entrava nas casas e dizia que os comedores de carne não entrariam no reino dos céus. Não é preciso dizer que sua messe de almas ficou no que, em matemática, se conceitua como “conjunto vazio” (ou conjunto nulo, representado pelo símbolo \varnothingou { }. Trata-se de um conjunto que não possui elementos. É zero, zero, zero).
                                 
                                                  QUARTA 

Paulo, o “pregador de rua”
                 Estavam em moda os gurus gregos. Enxames de filósofos, oradores, sofistas[1], magos, pseudorreligiosos se espalhavam pela cidade de Corinto a fim de aliciar jovens para suas fileiras. Como pregador multiforme, Paulo falava ou discursava tanto em lugares fechados como abertos, onde fosse mais conveniente. Ele bem poderia passar por mais um dos gurus itinerantes. Acontece que enquanto os oradores não contavam com poderes espirituais para sua tarefa, Paulo era um homem cheio do Espírito.  Suas palavras continham elementos que os discursos dos “pregadores de rua” jamais podiam ter: o poder do Espírito, a verdade da Palavra de Deus, a graça de Cristo e a mensagem mais poderosa de todas: Cristo e Esse crucificado.

   Os sofistas usavam a técnica do contra-argumento. A saber, que qualquer argumento ou arrazoado podia se contestado por outro que parecesse ter foros de verdade, porém, que servia simplesmente para recplicar e não para encontrar a verdade do fato.
   
   Eles são considerados por certos historiadores como os primeiros advogados da história, porque cobravam honorários dos clientes para efetuar sua defesa pública (nada de errado, diga-se de passagem).

   Sua corrente filosófica, a Sofística,  afirmava que não havia verdade absoluta, porém, só a relativa grego. Diziam que os valores morais e a verdade mudam com o tempo. Não é isso que o pós-modernismo defende? Seus defensores habilitavam-se na Erística, uma habilidade desenvolvida que conseguia sustentar e refutar, ao mesmo tempo, teses contraditórias.

                Paulo tinha contra seu projeto missionário a mentalidade generalizada de um confuso panorama cultural e religioso, por causa das várias correntes de pensamento popular. Ainda corria o risco de ser confundido com esses tipos de oradores andarilhos, o que rebaixaria a mensagem do Cristo morto, crucificado e ressurreto  ao nível de uma Babel cultural.

                Nossa lição destaca os eventuais paralelos existentes entre o trabalho de Paulo e dos oradores públicos. O apóstolo pregava tanto nas sinagogas (edifícios reservados) como nas praças (logradouros públicos). Atos 17:17 diz que Paulo “dissertava” nas sinagogas e nas praças. Dissertar, no original grego, tem o sentido de debater, arguir, discursar, o mesmo que faziam os mestres de Atenas e do mundo grego em geral.

                Quando pregou na sinagoga de Éfeso e tendo encontrado oposição por parte de certos frequentadores, resolveu levar os discípulos para a Escola de Tirano, a fim de poder ensiná-los diariamente. Não somente isso, durante três anos esse lugar público serviu de ponto de conferências do apóstolo, alcançando uma coletividade muito maior do que se houvesse estado na sinagoga.

                As gigantescas diferenças entre o trabalho de Paulo e as daqueles mestres gregos era que eles pensavam que sabiam o que era verdade. Paulo tinha a certeza da verdade porque essa lhe fora revelada diretamente por Cristo Jesus. Os filósofos pregavam que a potencialidade do homem podia levá-lo a adquirir um estágio superior de conhecimento da verdade. Paulo defendia que o homem nada podia fazer para libertar-se de sua carnalidade e viver dissoluto, senão por meio do Salvador que fora enviado do Céu. Que existia algo chamado obra da graça, uma operação dirigida pelo Espírito Santo, a qual capacitava o homem a refletir os princípios da verdade e da justiça, e o tornava melhor em todos os aspectos da vida. Os filósofos pregavam elevação temporal, Paulo pregava salvação eterna.                  
                 
QUIN TA  
Igrejas nos lares

                Foi naquele tempo que começaram os pequenos grupos. A organização da igreja era ainda incipiente ou principiante. Ela não possuía patrimônio, instituições, sanatórios, colégios, universidades, sistema financeiro institucional, etc. Era preciso um lugar para adorar a Deus segundo os ditames de consciência dos seguidores de Cristo. Irmãos que possuíam propriedade com cômodos suficientes para receber certo número de crentes para culto, emprestavam seus lares. Áquila e Priscila, colaboradores e amigos de Paulo, tinham uma igreja em seu lar (1Co 16:19). Ninfa, cristã de Laodiceia, também patrocinava uma igreja cedendo os cômodos de sua casa para as reuniões religiosas. Provavelmente esses locais serviam também como pontos de encontro para planejamento, hospedagem e núcleos de beneficência social.
                 
Residências do mundo romano – As casas romanas tipo domus seguiam um padrão. Havia um cômodo com um espaço no centro, em geral de ladrilhos, chamado "impluvium", onde caía a água da chuva, por uma abertura no teto (o "compluvium"). Esse cômodo onde ficava o "impluvium" era o "atrium". Em volta do atrium havia quartos e outros cômodos da casa. Não havia corredores, tudo ficava disposto em volta de cômodos centrais. Além do "atrium" havia o "peristilum", um pátio com um jardim no centro, em cujo redor havia os cômodos restantes da casa. Havia também a exedra, um recinto com assentos para reuniões e discussões, e o vestibulum que era a entrada principal da casa. .

Já as insulas eram, na arquitetura romana, habitações mais simples, domicílios das classes menos favorecidas. Como se vê na foto das ruínas de uma insula, eram semelhantes aos prédios de andares que temos hoje ou a sobrados. As ínsulas eram alugadas, mui pequenas, normalmente com um quarto onde chegavam a morar famílias inteiras.Embora a cidade de Roma possuíse rede de esgotos, as insulas não tinham locais de banho. Sua construção não era muito sólida. Eram construídas de madeira e tijolos ou pedras, o que as tornava alvos fáceis de incêndios. Por isso Nero não encontrou dificuldade em ordenar o grande incêndio. A proporção de insulas para domus era de quatro para uma.

Os irmãos mais abastados cediam seus domus para servir de casas de culto. Os irmãos mais pobres também se sentiam honrados e privilegiados em contribuir para a crescente igreja cristã, que cada vez mais demandava locais para abrigar os conversos e prepará-los para edificar sua fé e pregar a mensagem.
Pela proporção vista anteriormente, é provável que havia mais pequenos núcleos de adoração do que grandes. Os irmãos tinham uma fé tão vibrante que não reclamavam das acomodações. A igreja, estivesse num domus ou numa insula, era para eles a porta do céu.


[1] Os sofistas eram adeptos de uma escola filosófica e  viajavam por todo o mundo greco-romano para discursar em pública a fim de atrair estudantes de filosofia. Eles se ofereciam como mestres e cobravam estipêndio desses alunos para transmitir-lhes conhecimentos. Seus ensinamentos tinham como principal matéria a oratória, a argumentação pública e técnicas de persuasão coletiva. Esses professores gabavam-se de ensinar comportamentos virtuosos, isto é, de melhorar os cidadãos apenas usando o poder de convencimento de suas palavras.

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