Um herói chamado Janusz Korczak

(adaptado do texto de Bruce Scott)

Defendei o direito do órfão” (Isaías 1:17)

Deus ama as crianças. O coração de Deus se move na direção dos órfãos. Durante o Holocausto nazista, um certo homem fez exatamente isso.

Ele nasceu em 1878 na cidade de Varsóvia, Polônia, e seu nome de nascimento era Henryk Goldszmit. Os pais de Henryk eram etnicamente judeus, mas praticavam muito pouco do judaísmo. Eles também eram ricos. Entretanto, a infância de Henryk foi tudo menos alegre. Seu pai o ofendia verbalmente com insultos. Sua mãe o mimava e reprimia. Quando Henryk chegou à idade de 11 anos, seu pai começou a sofrer uma série de colapsos nervosos que culminaram no empobrecimento da família. Com 18 anos de idade, Henryk sofreu a perda de seu pai que morreu num hospício.

Tais experiências deram forma à causa que Henryk abraçaria por toda a sua vida. Ele repudiou a freqüente tirania dos poderosos sobre os fracos, a tirania dos ricos sobre os pobres, a tirania dos adultos sobre as crianças, bem como assumiu a missão de reformar a sociedade e ajudar aos necessitados.

Para cumprir sua missão, Henryk ingressou na medicina, especializando-se em pediatria. Enquanto cursou a universidade, ele cobrava valores exorbitantes de consulta dos seus pacientes abastados, de modo que pudesse ir aos cortiços e favelas para tratar dos pobres a baixo custo.

Durante aqueles dias, Henryk também começou a escrever e publicar suas experiências entre a população carente, a fim de chamar a atenção para a sua condição deplorável. Além disso, adotou o nome de Janusz Korczak, um nome mais polonês na sua sonoridade, pelo qual se tornou conhecido por toda a Polônia como um médico que cuidava dos miseráveis e advogava a causa das crianças. “Eu lhes digo”, escreveu Korczak, “Nunca vi cena mais cruel do que a de um bêbado que espanca uma criança ou do que a de uma criança que entra num boteco e implora: ‘Papai, vem pra casa!”’.¹

Em 1912, Korczak tomou a difícil decisão de deixar a prática da medicina numa clínica infantil para se tornar o diretor e médico de um novo orfanato judeu em Varsóvia o qual abrigava 100 crianças. Depois da Primeira Guerra Mundial, ele acumulou a responsabilidade de dirigir mais um orfanato, este para crianças não-judias.

Korczak dirigiu seus orfanatos conforme a “Children’s Republic” (i.e., “República das Crianças”) que ele delineou em sua famosa obra How to Love a Child (“Como Amar Uma Criança”), na qual enfatizou a importância de se respeitar as crianças e permitir-lhes governar a si mesmas. Embora alguns de seus métodos possam ser questionáveis para o uso no lar, eles provaram ser eficazes naqueles orfanatos. Um levantamento referente a um período de 20 anos demonstrou que 98% dos órfãos com quem Korczak trabalhou se desenvolveram em cidadãos produtivos e equilibrados.

Korczak escreveu, ensinou e fez discursos anônimos pelo rádio acerca das crianças e suas necessidades. Ele visitou a Terra Santa por duas vezes e planejava uma terceira visita, possivelmente para lá permanecer, quando a Alemanha invadiu a Polônia em setembro de 1939.

A partir do momento que Varsóvia foi tomada pelos alemães, Korczak se viu forçado a deslocar seus órfãos para o recém-criado Gueto de Varsóvia. Quinhentos mil judeus (dos quais 100 mil eram crianças) foram comprimidos e confinados numa área menor do que 2 quilômetros quadrados de extensão. Por dois anos Korczak e sua equipe se esforçaram para cuidar de suas crianças. Ele se dirigia às pessoas para pedir comida, batia de porta em porta para levantar donativos e improvisava recursos para tratamento médico. Para preservar uma certa aparência de normalidade e manter o moral das crianças elevado, Korczak deu continuidade às atividades da rotina diária das crianças, inclusive as práticas de dar recitais de música e de fazer apresentações teatrais.

Em 1942, Korczak manteve o registro de um diário por três meses, o qual mais tarde foi encontrado. Nesse diário ele escreveu: “Eu existo não para ser amado e admirado, mas sim para que eu mesmo aja e ame. Não é dever dos que estão ao meu redor me auxiliar, ao contrário sou compelido pelo dever de cuidar do mundo, cuidar do ser humano”.²

Em julho de 1942 os nazistas começaram a transferir os habitantes do Gueto de Varsóvia para o campo de extermínio de Treblinka. Em 5 de agosto daquele ano, aqueles 200 órfãos marcharam lado a lado em quatro fileiras sob a liderança de Korczak, de cabeça erguida na direção dos trens que os aguardavam. Apesar das ofertas anteriores de isenção pessoal e salvo-conduto, Korczak permaneceu nas suas incumbências. Ele afirmou: “Não se abandona uma criança doente ou carente durante a noite. Eu tenho duzentos órfãos; num momento como esse, vou ficar ao lado deles a cada minuto”.³ Na última ocasião em que Korczak foi visto, ele mais uma vez estava prestando auxílio às suas crianças – no interior dos trens.

Embora nunca tenha se casado, Korczak deixou um legado duradouro. Tiago em sua carta escreveu: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações...” (Tiago 1:27). Janusz Korczak, apesar de não ter sido um crente em Cristo, nem judeu praticante, indubitavelmente exemplificou o princípio desse versículo e estabeleceu um modelo a ser seguido por todos. (Bruce Scott, Israel My Glory - http://www.beth-shalom.com.br/)

REFLEXÃO: “Jesus, porém, chamando-as para si, disse: Deixai vir a mim as criancinhas, e não as impeçais, porque de tais é o reino de Deus” (Lucas 18:16)

Notas: (1) Citado no livro de Mark Bernheim, Father of the Orphans: The Story of Janusz Korczak. Nova York: E. P. Dutton, 1989, p. 66. - (2) Janusz Korczac, Ghetto Diary. New Haven: Yale University Press, 2003, p. 69.
(3) Bernheim, p. 131.


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