Comentários Lição 08 – Confiando na bondade de DEUS (Habacuque) - Prof. César Pagani

18 a 25 de Maio de 2013


Verso para Memorizar:

“A terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Hc 2:14).

            Habacuque (do hebraico Chabbaquq, significando abraço) profetizou por volta de 630-626  a.C., cerca de 20 a 24 anos antes da primeira invasão de Judá por Nabucodonosor. Esse profeta foi contemporâneo de Sofonias.
As dez tribos do Norte já haviam sido levadas para o cativeiro assírio e apenas, da grande nação havida sob os governos de Davi e Salomão, restavam Judá e Benjamim e em situação tão calamitosa que a ruína moral e política se estabelecera e alastrara, parecendo não haver mais solução senão a mesma ocorrida com Israel. 
O SDA Bible Commentary coloca os tempos de Habacuque provavelmente na última parte do reinado de Manassés, durante o reinado de Amom e princípio do governo de Josias, antes da reforma empreendida por esse monarca. É muito provável que o ministério desse profeta  tenha se seguido ao de Amós.
Alguns intérpretes supõem que Habacuque fosse um levita cantor; outros, que fosse um simeonita.
Falando de seu ministério profético, João Calvino assim se expressou: “No primeiro capítulo ele protesta contra a rebelde obstinação do povo e deplora as corrupções então prevalecentes. Ele então aparece como um arauto de Deus e adverte os judeus de sua iminente ruína. Depois, aplica a consolação, quando Deus iria punir os caldeus porquanto seu orgulho se tornaria intolerável. No segundo capítulo, ele exorta os piedosos a serem pacientes por seu próprio exemplo, e fala com liberdade da próxima ruína de Babilônia. No terceiro capítulo, como veremos, ele retoma o espírito de súplica e oração.”

DOMINGO
 Profeta perplexo
            Muitas vezes é-nos difícil entender os critérios divinos e Suas atitudes. Conquanto muitas das atitudes do Senhor sejam muito claras para ser interpretadas equivocadamente, há caminhos de Deus que estão envoltos em mistérios e que precisam ser aceitos em plena fidúcia ou confiança nAquele que é muito sábio para errar e incomensuravelmente bondoso para negar coisas boas a Seu povo.
            O tema geral do livro de Habacuque são os enigmas da Providência. “Porventura, desvendarás os arcanos [mistérios] de Deus ou penetrarás até à perfeição do Todo-Poderoso?” (Jó 11:7)
            O profeta tinha sérias dúvidas acerca do que Deus faria. “Contemplando a situação dos fieis em seus dias, ele expressou o peso que lhe ia no coração, inquirindo: ‘Até quando, Senhor, clamarei eu e Tu não me escutarás? Gritarei: Violência! E não salvarás? Por que razão me fazer ver a iniquidade e ver a vexação? Porque a destruição e a violência estão diante de mim; há também quem suscite a contenda e o litígio. Por esta causa a lei se afrouxa e a sentença nunca sai; porque o ímpio cerca o justo e sai o juízo pervertido.’ Hb 1:2-4.”  PR, 385.
            Havia uns poucos fieis nos dias do profeta e ele, embora atônito, tinha plena convicção de que, mais dia menos dia, Deus executaria os juízos que vinha prometendo há muito pelos profetas que antecederam Habacuque. Porém, naquele momento ele estranhava a suposta passividade divina diante dos tremendos males que assolavam Judá: Iniquidade, opressão, violência, contendas, desprezo à Santa Lei, ausência ou perversão da justiça, a prevalências dos desejos dos ímpios contra os direitos dos justos. “Onde estás, ó Deus?”, “Por que Te calas?” Parecia que Deus estava conivente com a clamorosa impiedade reinante.
            A impressão perplexa do profeta diante de Deus foi desfeita quando Deus disse o que iria fazer. “Deus respondeu ao clamor de Seus filhos leais. Por intermédio de Seu porta-voz Ele revelou Sua determinação de levar a correção à nação que O tinha desprezado para servir aos deuses dos gentios. Nos dias mesmos de alguns que estavam então inquirindo com respeito ao futuro, Ele miraculosamente modelaria os planos das nações dominantes da Terra, levando Babilônia à ascendência. Esse povo caldeu, ‘horrível e terrível’ (Ha 1:7), cairia subitamente sobre a terra de Judá como um açoite divinamente apontado. Os príncipes de Judá e os mais distintos dentre o povo seriam levados cativos para Babilônia; as cidades e vilas da Judeia e os campos cultivados seriam devastados, a nada se poupando.” PR, 385, 386.
   
SEGUNDA
            “O Meu justo viverá da fé.” (Hb 10:38) -  Por vezes lemos coisas acerca de Deus que podem fazer-nos duvidar de Sua justiça. Isso por que não compreendemos devidamente muitas das atitudes e caminhos divinos. Os pensamentos de Deus são muito mais elevados do que os nossos pensamentos, assim como o Céu dista da Terra. Quando não O compreendemos, podemos repousar nEle em fé. O caráter divino é nossa garantia da exatidão de Suas providências.
            “Confiante de que mesmo neste terrível juízo o propósito de Deus por Seu povo seria de alguma maneira cumprido, Habacuque rendeu-se em submissão à vontade revelada de Jeová. ‘Não és Tu desde sempre?’ ele exclamou. E então sua fé viu além das desoladoras perspectivas do imediato futuro, e descansando nas preciosas promessas que revelam o amor de Deus por Seus confiantes filhos, o profeta acrescentou: ‘Nós não morreremos’ Hc 1:12. Com esta declaração de fé, ele depós sua causa, bem como a de cada crente israelita, nas mãos de um compassivo Deus.” PR, 386.
            Quando Deus fala, podemos crer firmemente que tudo aquilo quanto diz se cumprirá. O exercício da fé é plenamente racional porque se estriba em Alguém que é a própria verdade e cujas palavras não falham. A gente acredita em quem é digno de confiança e essa é uma atitude lógica. A fé é a plena certeza das coisas que se esperam. É uma antecipação da realidade futura como se ela já tivesse ocorrido. Ela também é a prova daquilo que pertence ao mundo invisível e não podemos ver. Pela fé temos a prova de que existe uma cidade de ouro e marfim, cujas ruas são feitas de ouro polido. Pela fé temos certeza de que quando confessamos nossos pecados, eles são imediatamente perdoados por Deus e esse perdão anotado em livro celestial próprio. Pela fé cremos que está-se processando um julgamento no Céu, no qual estamos envolvidos juntamente com todos os servos de Deus de todos os tempos. Pela fé temos certeza de que Jesus está próximo, às portas.
            Recebemos do Espírito Santo uma medida de fé que precisa ser aumentada (Lc 18:8) e esse incremento deve ser pedido a Deus diariamente. A fé também precisa ser exercitada, ativada. A fé vem pelo ouvir, estudar e meditar na Palavra de Deus. Ela é nosso alimentador de fé. Ela opera pelo amor. Nosso amor a Deus fá-la real em nossa vida. Amamos a Deus, por isso acreditamos nEle e O queremos servir. Tem ela de ser acompanhada pelas obras. De nada adiante dizermos que temos fé se nossas obras não correspondem à profissão.
            “Devemos acariciar e cultivar a fé da qual testificaram profetas e apóstolos – a fé que se apodera das promessas de Deus e espera pelo livramento na ocasião e maneira apontados. A firme palavra da profecia encontrará seu final cumprimento no glorioso advento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, como Rei dos reis e Senhor dos senhores. O tempo de espera pode parecer longo, a alma pode ser oprimida por desanimadoras circunstâncias, muitos daqueles em quem confiamos podem cair ao longo do caminho, mas como o profeta procurou encorajar Judá em tempo de apostasia sem precedente, confiadamente declaramos: ‘O Senhor está no Seu santo templo, cale-se diante dEle toda a Terra.’ Hc 2:20.” PR, 387, 388. 

TERÇA

            As Escrituras nos incentivam a andar pela fé e não por vista. Jesus disse a Tomé que são bem-aventurados aqueles que não viram e creram, ao invés dos que querem ver para crer. Moisés é consagrado como um homem de forte fé porque ele via o que era invisível e pautava sua vida por essa visão.
            Deus manda Seus profetas escreverem visões e garante com Sua própria vida que elas terão cumprimento, ainda que possam parecer, às vezes, tardias. A visão do Dilúvio não foi escrita nos tempos de Noé, mas tida e pregada durante 120 anos – tempo de graça para aquela geração. À medida que os anos, décadas e até um século se passaram, parecia que tudo não passava de uma bravata de Noé, o velho pregoeiro, mas no fim do 120o ano, “veio o dilúvio e os levou a todos...” (Mt 24:39).
            Alguns intérpretes entendem que a visão a qual Deus mandou Habacuque escrever em tábuas, seja a do cativeiro babilônico e do posterior castigo dos caldeus e restabelecimento de Judá em seu território, incluindo a reconstrução do templo, dos muros e da cidade de Jerusalém.
            Após o primeiro advento de Jesus, a glória de Deus, mediante o evangelho salvador, espalhou-se por toda a Terra. Cristo ordenou que a expansão dessa glória começasse em Jerusalém, Judeia, Samaria e se espalhasse por toda a Terra (At 1:8). O conhecimento da glória de Deus na dádiva de Seu Filho Unigênito deveria chegar a cada habitante deste mundo. Quando o último fosse advertido e fizesse sua escolha, então a glória majestosa de Deus – não a glória do conhecimento, mas a glória da presença –seria vista por todos os homens, inclusive aqueles que transpassaram o Rei da Glória.
            Se tivermos a impressão de que a vinda de Jesus está demorando muito, não fiquemos ansiosos ou perturbados. O mais majestoso evento de todos os tempos está determinado na agenda divina e “falará até o fim e não mentirá” (Hc 2:3). “Se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará.” Estamos agora no tempo de tardança. Como as virgens da parábola, estamos dormindo à espera do Noivo. Mas isso não modifica a visão. Ela está em pleno curso e se cumprirá.
            “Todo o Céu está em atividade, empenhado em preparar-se para o dia da vingança de Deus, o dia do libertamento de Sião. O tempo de tardança está quase findo. Os peregrinos e estrangeiros que há tanto tempo estiveram em busca de um país melhor já quase chegaram a sua casa. Sinto como se devesse gritar bem alto: Rumo ao lar! Rapidamente nos estamos aproximando do tempo em que Cristo virá ajuntar para si os Seus remidos.” Review and Herald, 13 de novembro de 1913.
   
QUARTA
Lembrando a glória divina
            Habacuque finda seu livro com uma oração cantada ou shigionoth. Esse tipo de expressão artística é característico e apresenta em seu conteúdo estados emocionais alternados por parte do profeta; isto é, ele passa da constatação das temíveis grandezas do Deus de Israel, de Sua glória, de Suas obras feitas em prol do povo escolhido, para a exteriorização dos próprios sentimentos fortemente impressionados pela majestade divina, para a consideração de Sua ação vingadora contra os pecados e a perspectiva da futura destruição do povo rebelde. Daí ele passa finalmente para expressões de fé plena, louvor e exultação, porque “Jeová é minha força e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas”. 
             Nessa oração cantada o profeta faz três importantes pedidos: 1) Que Deus dê poderosa dinâmica à Sua obra de estabelecimento de Seu reino e a faça notória aos povos. 2) Que Ele Se lembre de misturar com misericórdia a manifestação de Sua justa ira contra Judá, que num futuro muito próximo seria cercada de inimigos, e não o destruísse ou eliminasse em virtude de grave apostasia e rebelião. 3) Habacuque pede que, quando viesse “o povo que nos destruirá” (v. 16), ele estivesse em plena paz em meio à angústia que sobreviria. 
            Relevam-se no salmo de Habacuque as descrições de Deus como vingador de justiça, majestoso em Suas obras. Ele é tremendo quando toma Seu arco de batalha. Deus tem uma contenda com os moradores da Terra (Jr 25:31). Embora envide todos os esforços para salvar e não punir, resgatar e não destruir, Ele não passará por alto as transgressões de quem quer que seja. Aproxima-se o tempo em que Deus desnudará Seu braço e efetuará o juízos na Terra. Aliás, os juízos já estão caindo e se manifestando em todas as partes do mundo. “Vivemos no tempo do fim. Os sinais dos tempos, a cumprirem-se rapidamente, declaram que a vinda de Cristo está próxima, às portas. Os dias em que vivemos são solenes e importantes. O Espírito de Deus está gradual, mas seguramente, sendo retirado da Terra. Pragas e juízos estão já caindo sobre os desprezadores da graça de Deus. As calamidades em terra e mar, as condições sociais agitadas, os rumores de guerra, são portentosos. Prenunciam a proximidade de acontecimentos da maior importância.” AA, 134.  
            Como Habacuque, já estamos constatando o justiçamento das nações. Deus está procurando, por intermédio de juízos, despertar a atenção do mundo que ruma para o abismo. As mensagens de salvação, de graça, de resgate estão sendo dadas em todo o mundo. A glória divina em breve se há de manifestar e pôr fim ao império do pecado. Quando isso acontecer, que o Senhor nos dê descanso no dia da angústia.

Deus é nossa força
            O firme arrimo de Habacuque era sua desenvolvida confiança em Deus. Sua fé mostrava-se inabalável, mesmo diante do estado corrupto da nação, de nenhum aceno de conversão, arrependimento ou mudança, da convicção dos juízos determinados por Deus (faltavam duas décadas para o ataque dos babilônios a Jerusalém), que dissolveriam a nação, eliminariam por completo sua soberania e tornariam cativos os judeus por 70 anos.  
            Diante de perspectivas tão desanimadoras, o profeta, embora alarmado por causa das declarações de Deus a ele reveladas (Hc 3:2), entoa um cântico de súplica e louvor para animar sua alma. Ele se recorda das obras que Deus realizou nos 40 anos de andanças pelo deserto. Viu que Deus atua poderosamente em favor de Seu povo. Considerou o trato misericordioso do Senhor desde o Êxodo, a tomada de Canaã, a época dos juízes, dos reinados anteriores desde Saul, passando por Davi, Salomão, Roboão, a divisão da nação e o estado atual.
            Ele não pediria a Deus que insistisse um pouco mais com o povo obstinado e retivesse Sua justa ira, usando de graça e piedade para com aquela gente cabeçuda, se não conhecesse muito bem com que Deus estava tratando.
            Por que ele confiava irrestrita e inabalavelmente no Senhor? Em primeiro lugar, ele possuía uma visão correta do Altíssimo, fruto de conhecimento pessoal, de experiências com Jeová, de haver provado o Senhor em muitas ocasiões. Em segundo lugar, ele era um estudante diligente das Escrituras e estava com sua fé alimentada. Por certo também era um homem de oração e súplicas. Em outros termos, ele estava firmemente ancorado em Deus.
            Por isso resolveu em seu coração esperar pacientemente pelos atos do Senhor, fossem quais fossem. Inda que a catástrofe de um ataque dos aguerridos exércitos dos babilônios se abatesse sobre Judá e esses guerreiros, como era seu padrão de guerra, arrasassem as plantações, matassem o gado e não deixassem meios de sobrevivência aos judeus. Ele sabia que ainda assim, se quisesse, Deus poderia fazer brotar mananciais no deserto.
            Quando um cristão chega a essa maturidade espiritual, ele espontaneamente se abre em louvores e gratidão, em plena certeza de que o Senhor é sua fortaleza e faz os seus pés ligeiros como os da corça, fazendo-o saltar altaneiramente.
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