Quantos concertos fez Deus com a raça decaída? “Assim como a Bíblia apresenta duas leis, uma imutável e eterna, e outra provisória e temporária, assim há dois concertos. O concerto da graça foi feito primeiramente com o homem no Éden, quando, depois da queda, foi feita uma promessa divina de que a semente da mulher feriria a cabeça da serpente. A todos os homens este concerto oferecia perdão, e a graça auxiliadora de Deus para a futura obediência mediante a fé em Cristo. Prometia-lhes também vida eterna sob condição de fidelidade para com a lei de Deus. Assim receberam os patriarcas a esperança da salvação.
“Este mesmo concerto foi renovado a Abraão, na promessa: ‘Em tua semente serão benditas todas as nações da Terra. ’ Gn 22:18. Esta promessa apontava para Cristo. Assim Abraão a compreendeu (Gl 3:8 e 16), e confiou em Cristo para o perdão dos pecados. Foi esta fé que lhe foi atribuída como justiça. O concerto com Abraão mantinha também a autoridade da lei de Deus. O Senhor apareceu a Abraão e disse: ‘Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em Minha presença e sê perfeito. ’ Gn 17:1. O testemunho de Deus concernente a Seu fiel servo foi: ‘Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, os Meus preceitos, os Meus estatutos, e as Minhas leis. ’ Gn 26:5. E o Senhor lhe declarou: ‘Estabelecerei o Meu concerto entre Mim e ti e a tua semente depois de ti em suas gerações, por concerto perpétuo, para te ser a ti por Deus, e à tua semente depois de ti. ’ Gn 17:7.
“Se bem que este concerto houvesse sido feito com Adão e renovado a Abraão, não poderia ser ratificado antes da morte de Cristo. Existira pela promessa de Deus desde que se fez a primeira indicação de redenção; fora aceito pela fé; contudo, ao ser ratificado por Cristo, é chamado um novo concerto. A lei de Deus foi a base deste concerto, que era simplesmente uma disposição destinada a levar os homens de novo à harmonia com a vontade divina, colocando-os onde poderiam obedecer à lei de Deus.
“Outro pacto, chamado nas Escrituras o ‘velho’ concerto, foi formado entre Deus e Israel no Sinai, e foi então ratificado pelo sangue de um sacrifício. O concerto abraâmico foi ratificado pelo sangue de Cristo, e é chamado o ‘segundo’, ou o ‘novo’ concerto, porque o sangue pelo qual foi selado foi vertido depois do sangue do primeiro concerto. Que o novo concerto era válido nos dias de Abraão, evidencia-se do fato de que foi então confirmado tanto pela promessa como pelo juramento de Deus, ‘duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta’. Hb 6:18.
“Mas, se o concerto abraâmico continha a promessa da redenção, por que se formou outro concerto no Sinai? - Em seu cativeiro, o povo em grande parte perdera o conhecimento de Deus e os princípios do concerto abraâmico. Libertando-os do Egito, Deus procurou revelar-lhes Seu poder e misericórdia, a fim de que fossem levados a amá-Lo e confiar nEle. Trouxe-os ao Mar Vermelho - onde, perseguidos pelos egípcios, parecia impossível escaparem - a fim de que se compenetrassem de seu completo desamparo, e da necessidade de auxílio divino; e então lhes operou o livramento. Assim eles se encheram de amor e gratidão para com Deus, e de confiança em Seu poder para os ajudar. Ele os ligara a Si na qualidade de seu Libertador do cativeiro temporal.” PP, 370, 371.
DOMINGO - Fundamentos do concerto
Para início de considerações, a lei a que Paulo se refere no verso 21 de Gl 4 é o Pentateuco, porquanto a história de Abraão, de Sara, Hagar, Ismael e Isaque está registrada em Gênesis, que pertence aos cinco primeiros livros bíblicos. As obras de Moisés são chamadas de Lei nas próprias Escrituras.
Pois bem, os gálatas que haviam sido enganados pelos judaizantes e se tornaram prosélitos do judaísmo ritual, por certo conheciam as histórias do AT. Paulo aproveitou-se desse conhecimento prévio para, mediante as alegorias de personagens bíblicos, ensinar acerca da loucura de tentar substituir a fé por rudimentos cerimoniais.
Conceituação de aliança – Basicamente um acordo entre pessoas visando ao conseguimento de objetivos do interesse das partes. Quando se faz um acordo entre iguais, as partes, segundo as leis vigentes no país onde habitam, estabelecem os direitos e obrigações pertinentes. A aliança entre partes desiguais se caracteriza pela imposição da vontade de uma das partes e a aceitação de outra.
Que Deus tem um acordo com todos os seres criados – referimo-nos aos anjos e habitantes de mundos não-caídos – ficou evidente quando da rebelião surgida nos paços celestiais. Satanás e seus asseclas desobedeceram, quebraram o concerto, e foram expulsos dos lugares santos. O rompimento dessa aliança deu-se pela rebelião e desobediência à justa vontade de Deus.
O tyrb bariyth (ou brith = cortar; daí a circuncisão chamar-se, em hebraico, brith milah ou aliança da circuncisão) tem os significados de acordo, compromisso, tratado, associação, aliança, convenção.
Na exposição argumentativa de Paulo, Sara e Hagar, duas personagens bíblicas, são evocadas como alegorias (representações de conceitos abstratos) dos dois concertos. (A etimologia de berîth ou brith não é inteiramente certa. A palavra ocorre pelos menos 280 vezes no Antigo Testamento, traduzida frequentemente como “concerto/aliança”. Noutros casos, a palavra é traduzida também por “liga” (Js 9:9; 2Sm 3:12 etc.); “confederação” (Ob 7; Gn 14:23). O termo é usado em uma variedade de significados, parecendo envolver não apenas o sentido de aliança, mas também, de compromisso, ordenança e lei. As opiniões, como poderia se esperar, divergem quanto à questão do significado primário do termo. Estudos etimológicos buscando encontrar a raiz por traz de berîth, não alcançaram resultados conclusivos. De acordo com M. Weinfeld, as derivações sugeridas podem ser classificadas em quatro possibilidades fundamentais . Para Mendehall, alternativa que envolve a idéia de “vínculo” e “responsabilidade” do concerto, é a posição geralmente aceita.)
Hagar – concubina de Abraão, serva de Sara, proveu descendência a Abraão, mas não segundo o mandado divino. Por sugestão de Sara e conivência do marido, eles tentaram cumprir a promessa de Deus - a parte de responsabilidade divina no acordo- feita em sua aliança com o patriarca. Ismael não era o filho da promessa, mas da carne, isto é, do desejo humano de querer fazer as coisas à sua moda. Paulo usou outro símbolo para o antigo concerto: o Monte Sinai. Ora, mas o que tem a ver o Monte Sinai com Hagar? No Monte Sinai foi homologada a Lei Moral e suprida a lei cerimonial. Os israelitas estavam sob jugo de justiça. “As condições do ‘velho concerto’ eram: Obedece e vive – ‘cumprindo-os [estatutos e juízos] o homem, viverá por eles’ (Ez 20:11; Lv 18:5); mas ‘maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei’. Dt 27:26.” MM59, 78.
É preciso cautela para não colocar o Senhor em posição dúbia, mal-interpretando Sua providência. Ora, Ele deu leis que eram justas para colocar o homem em servidão? As leis cerimoniais eram escravizantes? Se elas apontavam para Cristo, por que imputar-lhes essa finalidade desonrosa? Não nos esqueçamos de que as leis rituais (que também foram dadas por Deus, a exemplo da Lei Moral) exigiam fé dos cumpridores. Sem fé elas não passavam de liturgias ocas. Havia a forma, sim, mas essa devia direcionar para a fé. O problema está em tornar as leis salvadoras; aí elas se tornam escravagistas. Não foi isso o que os judaizantes fizeram e criaram grave crise na igreja da Galácia?
“A lei cerimonial existiu para atender a um propósito particular no plano de Cristo para a salvação da humanidade. O sistema típico de sacrifícios e ofertas fora estabelecido para que através dele o pecador pudesse discernir a grande oferta: Cristo... A lei cerimonial era gloriosa; era a provisão feita por Jesus Cristo em conselho com Seu Pai, para auxiliar na salvação da raça. Todos os dispositivos do sistema típico foram baseados em Cristo. Adão vira Cristo prefigurado no inocente animal que sofria, a penalidade da sua própria transgressão à lei de Jeová.” SDA Bible Commentary, vol. 6, pág. 1.094.
Hagar representa o pacto da escravidão no sentido de que a Lei que Deus revelou no Sinai não pode libertar os homens; pelo contrário, fá-los escravos da iniquidade e do pecado. Sua função é mostrar o pecado em todas as suas cores. O povo prometeu guardar a Lei sem compreender o que ela realmente significava. Colocaram-se sob compromisso de fazer algo impossível sem a justiça do Cordeiro.
Sara – tipo da Jerusalém que é de cima (v. 26), a cidade de Deus para onde estão destinados todos aqueles que seguem o Caminho, a Verdade e a Vida – Jesus Cristo. Sara gerou Isaque de Abraão. Em Isaque se cumpriram as promessas da santa descendência, da descendência da fé. O Salvador do mundo veio da linha genealógica de Isaque (ver Mt 1:2-16). O novo concerto nada mais é do que o cumprimento da promessa feita primeiramente a Adão, depois a Noé, a Abraão e a Davi (de cuja descendência real viria o Príncipe dos príncipes. É estabelecido em melhores promessas (Hb 8:6). Por paradoxal que possa parecer, o novo concerto é bem mais velho do que o concerto antigo, porquanto vem desde antes da fundação do mundo e prevalece sobre a aliança provisória do Sinai.
SEGUNDA - O concerto abraâmico
John Murray, eminente teólogo de pensamento calvinista, observa que “este concerto com Abraão é explicitamente estabelecido em Gênesis 15, 17, [que] enfatiza a totalidade do subsequente desenvolvimento da promessa redentiva de Deus, [em] palavra e ação”.
Eis o texto da aliança com Abraão e sua descendência: “Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gn 12:1-3)
As promessas: 1) Uma grande nação procederia do desfilhado patriarca. 2) Ele seria abençoado. 3) Se tornaria famoso. 4) Receberia poder para “ser uma bênção” [servir à humanidade]. 5) Todas as famílias da Terra, isto é, toda a humanidade seria abençoada por Deus através da descendência de Abraão.
Segundo Walvoord, “o concerto abraâmico fornece a chave para todo Antigo Testamento. [...] A análise de suas provisões e o caráter de seu cumprimento estabelecem o formato para todo o corpo da verdade bíblica.” Em outras palavras, tudo quanto foi revelado por Deus aos israelitas estava embasado nas promessas feitas ao patriarca da nação.
Explica o Dr. Amin A. Rodor, teólogo adventista: “Sem dúvida, é precisamente em termos das promessas dadas a Abraão, que Deus na plenitude dos tempos, enviaria Seu Filho, para que todos, sem distinção, recebessem a adoção de filhos. A redentiva graça de Deus, no alcance mais amplo de sua realização, é o desdobramento da promessa dada a Abraão, e, portanto, o desdobramento
do Concerto Abraâmico. Assim, Paul R. House adequadamente sumariza a questão quando afirma a respeito de Genesis 11:10-25:18: ‘Dito de forma simples, então, seria difícil exagerar a importância desta seção na literatura bíblica, e, portanto, na teologia bíblica.’”
A ação divina no capítulo 12 do Gênesis é graciosamente seletiva. Ele escolheu um homem para fazer um contrato de escopo universal com ele. Nada havia, a rigor, em Abraão que merecesse a atração do interesse divino. Por certo havia muitos homens justos contemporâneos. A preferência foi unicamente por graciosa manifestação.
O concerto sinaítico ou mosaico foi uma derivação do concerto adâmico e abraâmico. A finalidade era salvífica. “As melhores promessas” já estavam contidas em seu bojo. A promessa de perdão, por exemplo, era certa, desde que a fé no Redentor vindouro fosse manifesta pelo ofertante do sacrifício ritual.
No concerto abraâmico também havia sacrifícios rituais, embora não houvesse um sacerdócio intermediador. Melquisedeque é mencionado como sacerdote do Deus Altíssimo a quem Abraão devolveu o dízimo, mas não há qualquer evidência de que ele ministrasse nalgum templo ou que houvesse uma ritualística a observar.
Não podemos omitir a relação promessa-obediência, sem falsearmos a teologia do concerto. Antes das promessas do acordo, ordenou Deus: “Sai da tua terra, da tua parentela, da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei.” (Gn 12:1). Suponhamos que Abraão dissesse a Deus: “Não estou interessado; perdoe-me, Senhor, por não aceitar essa proposta. Estou muito bem aqui em Harã, tenho minha fazenda, muito gado, servos, renome local, e não desejo trocar meu conforto e estabilidade por uma viagem insólita.” Que seria do concerto?
As promessas e o concerto eram fruto da extraordinária graça e amor infinito de Deus, mas a graça não coagiria a vontade do ser. Abraão era um homem livre e, caso preferisse contrariar o plano de Deus, teria esse direito.
O concerto exigiu muita fé exercida através da paciência do patriarca. Parecia que o Senhor estava retardando a promessa, como se dissesse: “Abraão, você está em Minhas mãos. Farei o que prometi e quando Eu quiser.” O venerando homem deixou escapar uma pequena lamentação quanto à demora da promessa: “Senhor Deus, que me haverás de dar se continuo sem filhos.” (Gn 15:2) Deus renovou Sua promessa e Abraão creu na repetição do que Deus combinara com ele.
“A vida altruísta de Abraão tornou-o realmente um ‘espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens’. I Co 4:9. E o Senhor declarou que abençoaria os que bendissessem a Abraão, e puniria os que o maltratassem ou prejudicassem. Por meio da experiência de Abraão em sua vida religiosa, tem sido transmitido um correto conhecimento de Jeová a milhares de pessoas; e a sua luz lançará seus raios ao longo do caminho dos que praticam a piedade, a fé, a devoção e a obediência de Abraão.” E Recebereis Poder, 257.
TERÇA - Abraão, Sara e Hagar
Um triângulo amoroso que não deu certo. E por quê? Bem, tal situação é defectiva em todos os pontos. Deus fez uma mulher para um homem e um homem para uma mulher. Jesus falou sobre isso em Sua autoridade (Mt 19:4-6). A partir de Lameque (tetraneto de Caim) a determinação divina foi desrespeitada e a configuração do casamento passou a ter um homem e várias mulheres (poligamia). No tempo de Abraão, era costume arraigado de há muito ter o homem vínculo esponsal com duas ou mais companheiras.
Nosso bom patriarca, por sugestão da própria esposa, tomou a egípcia Hagar como mulher para gerar-lhe filhos. Talvez ele tenha pensado: “Bem, Deus disse que me daria muitos descendentes, porém, não especificou quem seria a geradora deles. Além disso, minha esposa autorizou-me a coabitar com sua serva para ter filhos com ela. Sara é estéril e jamais poderá ter filhos. Sendo assim, nada há de mal se Hagar me der descendência.” Esse comportamento moral de Sara no matrimônio estava mais estribado no Código de Hamurabi, conhecida lei daqueles tempos, e em outras leis orientais. Tabletes de argila descobertos em Nuzi, antiga cidade da Mesopotâmia registram disposições legais sobre contratos de casamento: “É obrigação o provimento de uma serva para o marido, caso a mulher não lhe dê filhos.”
Ora, o concerto fora feito com base nas promessas de Deus, aceitas unicamente pela fé. Isso queria dizer que o Senhor faria Sua parte em dar descendência ao velho Abraão. Ele, contudo, requeria continuidade ou firmeza de fé. Abraão fraquejou algumas vezes em sua confiança. Calvino escreveu que “a substância da fé possuída por Abraão e por Sara era deficiente, não em relação à promessa, mas em relação ao método pelo qual se cumpriria.”
Essa ação histórica proveu a Paulo a alegoria de que precisava para esclarecer os gálatas quanto à loucura de seu procedimento. Eles, mediante o evangelho de Cristo pregado por Paulo, haviam nascido livres em Jesus. Eram como Isaque, filhos da promessa e não como Ismael, filho de uma escrava, alguém de categoria social desprezível.
Por que o autor sagrado usa o Monte Sinai, ligando-o à Jerusalém palestina e os representa como símbolos de escravidão? As leis que Deus deu, por acaso escravizam? Se sim, então não são justas e se Autor não entende nada de legislação. Mas está escrito da primeira Lei dada no Sinai, que ela é “santa, justa e boa” (Rm 7:12). Das leis cerimoniais lemos: “Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor, meu Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a possuir. Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente.” (Dt 4:5, 6)
Onde, pois, a escravidão? Na forma como a Lei é entendida. Se vista como requisito sine qua non ao alcance do mortal para a obtenção dos favores divinos, então ela é nociva e letal. O pecador vai tentar observá-la com firme decisão, força de vontade, determinação e retidão própria. Vai se impor a obrigação de atender à sua forma de justiça, porém, é tão incompetente para atingir e cumprir o espírito da Lei, quanto uma tartaruga virada de patas para o ar retornar à posição normal.
Eis por que Paulo diz que a “Jerusalém atual” (Gl 4:25) está em escravidão. Na época em que Paulo escreveu a epístola aos gálatas, os judeus, simbolizados por sua cidade-orgulho, ainda estavam presos à lei abolida por Cristo na cruz. Barnes entende da mesma maneira: “Isto é, um escravo de ritos e formas, como de fato era no tempo de Paulo”.
Quem, porém, recebeu o bendito Evangelho de Cristo já é habitante da Jerusalém de cima. Seu nome está escrito no Livro da Vida do Cordeiro. Já é cidadão legítimo do Céu.
“Temos Sua promessa. Temos o direito de posse à propriedade real no reino da glória. Nunca foi elaborado um título de propriedade mais estritamente de acordo com a lei, nem assinado de modo mais legível, do que o que dá ao povo de Deus o direito às mansões celestiais. ‘Não se turbe o vosso coração’ - diz Cristo; - ‘credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, Eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando Eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para Mim mesmo, para que, onde Eu estou, estejais vós também.’ Jo 14:1-3.” MM95, 273.
A propósito, estude o manual de acesso à Nova Jerusalém: “Aos que se estão preparando para as mansões celestiais deve ser recomendado que façam da Bíblia seu principal livro de estudo.” FEC, 381.
QUARTA - Hagar e o Monte Sinai (Gl 4:21-31)
Não há nenhuma ligação histórica entre Hagar e o Monte Sinai. Ela era egípcia e morou com Abraão em Betel e depois Berseba. Sequer passou pelo Monte onde, mais tarde, Deus deu Sua Lei a Israel. Por que Paulo usou Hagar e o Sinai como alegoria da escravidão, da servidão? Leia Dt 33:2-4: “Disse, pois: O Senhor veio do Sinai e lhes alvoreceu de Seir, resplandeceu desde o monte Parã; e veio das miríades de santos; à Sua direita havia para eles o fogo da lei. Na verdade, amas os povos; todos os Teus santos estão na Tua mão; eles se colocam a Teus pés e aprendem das Tuas palavras. Moisés nos prescreveu a lei por herança da congregação de Jacó.” Pergunto: O que há de deletério e nocivo provindo do Sinais?
É útil repisar o ponto de que o problema não estava com a Lei Moral ou a ritualística. Nenhuma lei de Deus tem teor coercivo, escravagista, compulsório. Usemos um silogismo aqui para ver onde uma conceituação errada pode levar: premissa maior: Deus deu origem a todas as leis; premissa menor: As leis são instrumentos de escravaria; conclusão: Logo, Deus é o criador da escravidão. Veja que terrível enrascada origina esse raciocínio.
O pecado sim é que é escravocrata. Quem peca, escolhe fazê-lo e algema-se a si mesmo: “Quanto ao perverso, as suas iniquidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido.” (Pv 5:22) “Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo [mashal ou exercer domínio sobre ele].” (Gn 4:7).
Perceba que os gálatas escolheram entre o puro evangelho de Paulo e o “evangelho judaizante caduco”. Assim se puseram em escravidão a exemplo do que os israelitas fizeram no Sinai: “Então, o povo respondeu à uma: Tudo o que o Senhor falou faremos.” (Ex 24:3) Deste modo obrigaram-se pela palavra perante Deus, fazendo um voto de obediência. Mas não demorou muito e adoraram o bezerro de ouro anulando o voto. Caiu sobre eles o desagrado divino: “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes.” (Ec 5:4). Igualmente, o problema do Sinai foi a desobediência e não a Lei.
O “jugo da escravidão” de que fala Paulo no cap. 5, verso 1, concluindo sua argumentação exposta no cap. 4, refere-se claramente às leis cerimoniais sobrecarregadas de interpretações rabínicas e pensamentos de homens ao longo dos séculos. “É isto uma parábola para a época presente; e, segundo esta, se oferecem tanto dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto, os quais não passam de ordenanças da carne, baseadas somente em comidas, e bebidas, e diversas abluções, impostas até ao tempo oportuno de reforma.” (Hb 9:9, 10) “Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem.” (Cl 2:20-22)
O ritual do santuário e suas leis não eram jugo de escravidão, mas formas de edificar a fé se bem compreendidos. Com a deturpação dos “edificadores da religião”, aquilo que era útil e proveitoso tornou-se carga insuportável por causa dos doutores da Lei: “Mas Ele respondeu: Ai de vós também, intérpretes da Lei! Porque sobrecarregais os homens com fardos superiores às suas forças, mas vós mesmos nem com um dedo os tocais.” (Lc 11:46)
É importante notar que Jesus posicionou-se declaradamente a favor do código legal mosaico, pois disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17). Entretanto, Ele rejeitou com energia as ordenanças humanas e as compulsões impostas apenas pela tradição judaica (codificadas depois no Talmude), afirmando: “Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição. Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte. Vós, porém, dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que podereis aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta para o Senhor, então, o dispensais de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua mãe, invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes” (Mc 7:8-13).
“Os próprios discípulos de Cristo não estavam libertos, inteiramente, do jugo sobre eles posto pelos preconceitos herdados e pela autoridade dos rabinos. Manifestando agora o verdadeiro espírito desses rabis, buscava Cristo livrar da escravidão da tradição todos quantos na verdade desejassem servir a Deus.” DTN, 397.
Não incorramos na psicose de Esaú ao considerar a Lei de Deus um fardo. “A lei de Deus, que era a condição do concerto divino com Abraão, era considerada por Esaú como um jugo de escravidão.” PP, 178.
“Necessitamos diariamente de iluminação divina; devemos orar como Davi: ‘Desvenda os meus olhos, para que veja as maravilhas da Tua lei.’ Sl 119:18. Deus terá um povo sobre a Terra que vindicará Sua honra dando valor a todos os Seus mandamentos; e Seus mandamentos não são penosos, nem um jugo de servidão.” FO, 42.
“Os que fazem ousadas pretensões de santidade demonstram com isso que eles não vêem a si mesmos à luz da lei; não são iluminados espiritualmente e não sentem aversão a toda espécie de egoísmo e orgulho. De seus lábios manchados pelo pecado saem as expressões contraditórias: ‘Sou santo, sou sem pecado. Jesus me ensina que se eu guardar a lei, cairei da graça. A lei é um jugo de servidão.’ Diz o Senhor: ‘Bem-aventurados aqueles que guardam os Seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas.’ Devemos estudar diligentemente a Palavra de Deus para que cheguemos a decisões corretas e procedamos de acordo com elas; pois então obedeceremos à Palavra e estaremos em harmonia com a santa lei de Deus.” Idem, 95.
QUINTA - Ismael e Isaque hoje
Visto estarmos tratando de alegorias – Sara, Hagar, Monte Sinai, Jerusalém, Jerusalém Celestial, há duas delas que precisamos também entender: Ismael e Isaque. Ismael era da idade de 14 anos (foi circuncidado aos 13) quando Isaque nasceu. Na cabeça de Abraão, Ismael até então era o filho da promessa. Quase uma década e meia pensando que Ismael era o herdeiro e que dele viria a descendência que seria uma bênção a toda a humanidade. Deus abençoou, de fato, a Ismael dando-lhe tantos descendentes que formariam uma grande nação - os ismaelitas (Gn 17:20) que viveram ao norte da Arábia e a leste da Síria. Porém, o Senhor não se agradou de Ismael para torná-lo antecessor do vitorioso Messias. Dele foi profetizado: “Esse filho será como um jumento selvagem; ele lutará contra todos, e todos lutarão contra ele. E ele viverá longe de todos os seus parentes.” (Gn 16:12) EGW diz que ele possuía uma disposição turbulenta, desrespeitosa.
Isaque foi gerado de Abraão e Sara. Ele, sim, tornou-se o herdeiro espiritual de Abraão. A promessa de Deus referia-se a Isaque e não a Ismael. Não por que esse era filho de escrava. Ismael não era escravo nem servo; era progênie ou descendência de Abraão. Entretanto, por viver isolado do povo e da Lei de Deus, apostatou-se. O secundogênito (Isaque) era o verdadeiro primogênito por viver a fé de seu pai.
Os Ismaéis de hoje são os contenciosos da igreja, cuja mão é contra todos e a mão de todos contra eles. Estão interessados em contender, dividir, desconstruir e duvidar. São escravos de suas próprias paixões. Perseguem os que querem viver de acordo com as Escrituras e os Testemunhos, taxando-os de estreitos, fanáticos, retrógrados. Montam até sites para investir turbulentamente contra os servos de Deus que, apesar de terem suas fraquezas e cometerem deslizes, estão fazendo a obra como Neemias: “Estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria a obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco?” (Nee 6:3) Fundam editoras, editam livros, panfletos, revistas; usam a Internet para trazer vergonha sobre a causa de Deus. Uma coisa não são: “escravos de Cristo” (ver I Co 7:22)!
Os Isaques são aqueles que, apesar de suas deficiências morais e deslizes, temem a Deus e procuram fazer firme sua vocação em Cristo Jesus. São filhos da promessa, sendo descendentes de Abraão (Gl 3:29), herdeiros da Nova Terra, possuidores de todos os bens do Pai.
“Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus.” (Mt 8:11) Por que estarão à mesa das bodas do Cordeiro na Jerusalém de cima? Vindos de todas as nações (Oriente e Ocidente), aqueles que aceitaram a “descendência de Abraão” mediante a fé no sacrifício todo-suficiente de Cristo viverão a eterna felicidade.
“O caso de Isaque está registrado como um exemplo a ser imitado pelos filhos das gerações posteriores, especialmente aqueles que professam temer a Deus.
“O caminho que Abraão seguiu na educação de Isaque, e que o levou a amar uma vida de nobre obediência, foi relatado para benefício dos pais, e deve levá-los a ordenar sua casa após eles. Devem instruir os filhos a se renderem a sua autoridade e respeitá-la. Devem sentir a responsabilidade que sobre eles repousa, de guiar as afeições dos filhos, de modo que elas sejam postas sobre pessoas a quem o seu discernimento indique tratar-se de companheiros dignos para seus filhos e filhas. HR, 86.
“Este mesmo concerto foi renovado a Abraão, na promessa: ‘Em tua semente serão benditas todas as nações da Terra. ’ Gn 22:18. Esta promessa apontava para Cristo. Assim Abraão a compreendeu (Gl 3:8 e 16), e confiou em Cristo para o perdão dos pecados. Foi esta fé que lhe foi atribuída como justiça. O concerto com Abraão mantinha também a autoridade da lei de Deus. O Senhor apareceu a Abraão e disse: ‘Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em Minha presença e sê perfeito. ’ Gn 17:1. O testemunho de Deus concernente a Seu fiel servo foi: ‘Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, os Meus preceitos, os Meus estatutos, e as Minhas leis. ’ Gn 26:5. E o Senhor lhe declarou: ‘Estabelecerei o Meu concerto entre Mim e ti e a tua semente depois de ti em suas gerações, por concerto perpétuo, para te ser a ti por Deus, e à tua semente depois de ti. ’ Gn 17:7.
“Se bem que este concerto houvesse sido feito com Adão e renovado a Abraão, não poderia ser ratificado antes da morte de Cristo. Existira pela promessa de Deus desde que se fez a primeira indicação de redenção; fora aceito pela fé; contudo, ao ser ratificado por Cristo, é chamado um novo concerto. A lei de Deus foi a base deste concerto, que era simplesmente uma disposição destinada a levar os homens de novo à harmonia com a vontade divina, colocando-os onde poderiam obedecer à lei de Deus.
“Outro pacto, chamado nas Escrituras o ‘velho’ concerto, foi formado entre Deus e Israel no Sinai, e foi então ratificado pelo sangue de um sacrifício. O concerto abraâmico foi ratificado pelo sangue de Cristo, e é chamado o ‘segundo’, ou o ‘novo’ concerto, porque o sangue pelo qual foi selado foi vertido depois do sangue do primeiro concerto. Que o novo concerto era válido nos dias de Abraão, evidencia-se do fato de que foi então confirmado tanto pela promessa como pelo juramento de Deus, ‘duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta’. Hb 6:18.
“Mas, se o concerto abraâmico continha a promessa da redenção, por que se formou outro concerto no Sinai? - Em seu cativeiro, o povo em grande parte perdera o conhecimento de Deus e os princípios do concerto abraâmico. Libertando-os do Egito, Deus procurou revelar-lhes Seu poder e misericórdia, a fim de que fossem levados a amá-Lo e confiar nEle. Trouxe-os ao Mar Vermelho - onde, perseguidos pelos egípcios, parecia impossível escaparem - a fim de que se compenetrassem de seu completo desamparo, e da necessidade de auxílio divino; e então lhes operou o livramento. Assim eles se encheram de amor e gratidão para com Deus, e de confiança em Seu poder para os ajudar. Ele os ligara a Si na qualidade de seu Libertador do cativeiro temporal.” PP, 370, 371.
DOMINGO - Fundamentos do concerto
Para início de considerações, a lei a que Paulo se refere no verso 21 de Gl 4 é o Pentateuco, porquanto a história de Abraão, de Sara, Hagar, Ismael e Isaque está registrada em Gênesis, que pertence aos cinco primeiros livros bíblicos. As obras de Moisés são chamadas de Lei nas próprias Escrituras.
Pois bem, os gálatas que haviam sido enganados pelos judaizantes e se tornaram prosélitos do judaísmo ritual, por certo conheciam as histórias do AT. Paulo aproveitou-se desse conhecimento prévio para, mediante as alegorias de personagens bíblicos, ensinar acerca da loucura de tentar substituir a fé por rudimentos cerimoniais.
Conceituação de aliança – Basicamente um acordo entre pessoas visando ao conseguimento de objetivos do interesse das partes. Quando se faz um acordo entre iguais, as partes, segundo as leis vigentes no país onde habitam, estabelecem os direitos e obrigações pertinentes. A aliança entre partes desiguais se caracteriza pela imposição da vontade de uma das partes e a aceitação de outra.
Que Deus tem um acordo com todos os seres criados – referimo-nos aos anjos e habitantes de mundos não-caídos – ficou evidente quando da rebelião surgida nos paços celestiais. Satanás e seus asseclas desobedeceram, quebraram o concerto, e foram expulsos dos lugares santos. O rompimento dessa aliança deu-se pela rebelião e desobediência à justa vontade de Deus.
O tyrb bariyth (ou brith = cortar; daí a circuncisão chamar-se, em hebraico, brith milah ou aliança da circuncisão) tem os significados de acordo, compromisso, tratado, associação, aliança, convenção.
Na exposição argumentativa de Paulo, Sara e Hagar, duas personagens bíblicas, são evocadas como alegorias (representações de conceitos abstratos) dos dois concertos. (A etimologia de berîth ou brith não é inteiramente certa. A palavra ocorre pelos menos 280 vezes no Antigo Testamento, traduzida frequentemente como “concerto/aliança”. Noutros casos, a palavra é traduzida também por “liga” (Js 9:9; 2Sm 3:12 etc.); “confederação” (Ob 7; Gn 14:23). O termo é usado em uma variedade de significados, parecendo envolver não apenas o sentido de aliança, mas também, de compromisso, ordenança e lei. As opiniões, como poderia se esperar, divergem quanto à questão do significado primário do termo. Estudos etimológicos buscando encontrar a raiz por traz de berîth, não alcançaram resultados conclusivos. De acordo com M. Weinfeld, as derivações sugeridas podem ser classificadas em quatro possibilidades fundamentais . Para Mendehall, alternativa que envolve a idéia de “vínculo” e “responsabilidade” do concerto, é a posição geralmente aceita.)
Hagar – concubina de Abraão, serva de Sara, proveu descendência a Abraão, mas não segundo o mandado divino. Por sugestão de Sara e conivência do marido, eles tentaram cumprir a promessa de Deus - a parte de responsabilidade divina no acordo- feita em sua aliança com o patriarca. Ismael não era o filho da promessa, mas da carne, isto é, do desejo humano de querer fazer as coisas à sua moda. Paulo usou outro símbolo para o antigo concerto: o Monte Sinai. Ora, mas o que tem a ver o Monte Sinai com Hagar? No Monte Sinai foi homologada a Lei Moral e suprida a lei cerimonial. Os israelitas estavam sob jugo de justiça. “As condições do ‘velho concerto’ eram: Obedece e vive – ‘cumprindo-os [estatutos e juízos] o homem, viverá por eles’ (Ez 20:11; Lv 18:5); mas ‘maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei’. Dt 27:26.” MM59, 78.
É preciso cautela para não colocar o Senhor em posição dúbia, mal-interpretando Sua providência. Ora, Ele deu leis que eram justas para colocar o homem em servidão? As leis cerimoniais eram escravizantes? Se elas apontavam para Cristo, por que imputar-lhes essa finalidade desonrosa? Não nos esqueçamos de que as leis rituais (que também foram dadas por Deus, a exemplo da Lei Moral) exigiam fé dos cumpridores. Sem fé elas não passavam de liturgias ocas. Havia a forma, sim, mas essa devia direcionar para a fé. O problema está em tornar as leis salvadoras; aí elas se tornam escravagistas. Não foi isso o que os judaizantes fizeram e criaram grave crise na igreja da Galácia?
“A lei cerimonial existiu para atender a um propósito particular no plano de Cristo para a salvação da humanidade. O sistema típico de sacrifícios e ofertas fora estabelecido para que através dele o pecador pudesse discernir a grande oferta: Cristo... A lei cerimonial era gloriosa; era a provisão feita por Jesus Cristo em conselho com Seu Pai, para auxiliar na salvação da raça. Todos os dispositivos do sistema típico foram baseados em Cristo. Adão vira Cristo prefigurado no inocente animal que sofria, a penalidade da sua própria transgressão à lei de Jeová.” SDA Bible Commentary, vol. 6, pág. 1.094.
Hagar representa o pacto da escravidão no sentido de que a Lei que Deus revelou no Sinai não pode libertar os homens; pelo contrário, fá-los escravos da iniquidade e do pecado. Sua função é mostrar o pecado em todas as suas cores. O povo prometeu guardar a Lei sem compreender o que ela realmente significava. Colocaram-se sob compromisso de fazer algo impossível sem a justiça do Cordeiro.
Sara – tipo da Jerusalém que é de cima (v. 26), a cidade de Deus para onde estão destinados todos aqueles que seguem o Caminho, a Verdade e a Vida – Jesus Cristo. Sara gerou Isaque de Abraão. Em Isaque se cumpriram as promessas da santa descendência, da descendência da fé. O Salvador do mundo veio da linha genealógica de Isaque (ver Mt 1:2-16). O novo concerto nada mais é do que o cumprimento da promessa feita primeiramente a Adão, depois a Noé, a Abraão e a Davi (de cuja descendência real viria o Príncipe dos príncipes. É estabelecido em melhores promessas (Hb 8:6). Por paradoxal que possa parecer, o novo concerto é bem mais velho do que o concerto antigo, porquanto vem desde antes da fundação do mundo e prevalece sobre a aliança provisória do Sinai.
SEGUNDA - O concerto abraâmico
John Murray, eminente teólogo de pensamento calvinista, observa que “este concerto com Abraão é explicitamente estabelecido em Gênesis 15, 17, [que] enfatiza a totalidade do subsequente desenvolvimento da promessa redentiva de Deus, [em] palavra e ação”.
Eis o texto da aliança com Abraão e sua descendência: “Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gn 12:1-3)
As promessas: 1) Uma grande nação procederia do desfilhado patriarca. 2) Ele seria abençoado. 3) Se tornaria famoso. 4) Receberia poder para “ser uma bênção” [servir à humanidade]. 5) Todas as famílias da Terra, isto é, toda a humanidade seria abençoada por Deus através da descendência de Abraão.
Segundo Walvoord, “o concerto abraâmico fornece a chave para todo Antigo Testamento. [...] A análise de suas provisões e o caráter de seu cumprimento estabelecem o formato para todo o corpo da verdade bíblica.” Em outras palavras, tudo quanto foi revelado por Deus aos israelitas estava embasado nas promessas feitas ao patriarca da nação.
Explica o Dr. Amin A. Rodor, teólogo adventista: “Sem dúvida, é precisamente em termos das promessas dadas a Abraão, que Deus na plenitude dos tempos, enviaria Seu Filho, para que todos, sem distinção, recebessem a adoção de filhos. A redentiva graça de Deus, no alcance mais amplo de sua realização, é o desdobramento da promessa dada a Abraão, e, portanto, o desdobramento
do Concerto Abraâmico. Assim, Paul R. House adequadamente sumariza a questão quando afirma a respeito de Genesis 11:10-25:18: ‘Dito de forma simples, então, seria difícil exagerar a importância desta seção na literatura bíblica, e, portanto, na teologia bíblica.’”
A ação divina no capítulo 12 do Gênesis é graciosamente seletiva. Ele escolheu um homem para fazer um contrato de escopo universal com ele. Nada havia, a rigor, em Abraão que merecesse a atração do interesse divino. Por certo havia muitos homens justos contemporâneos. A preferência foi unicamente por graciosa manifestação.
O concerto sinaítico ou mosaico foi uma derivação do concerto adâmico e abraâmico. A finalidade era salvífica. “As melhores promessas” já estavam contidas em seu bojo. A promessa de perdão, por exemplo, era certa, desde que a fé no Redentor vindouro fosse manifesta pelo ofertante do sacrifício ritual.
No concerto abraâmico também havia sacrifícios rituais, embora não houvesse um sacerdócio intermediador. Melquisedeque é mencionado como sacerdote do Deus Altíssimo a quem Abraão devolveu o dízimo, mas não há qualquer evidência de que ele ministrasse nalgum templo ou que houvesse uma ritualística a observar.
Não podemos omitir a relação promessa-obediência, sem falsearmos a teologia do concerto. Antes das promessas do acordo, ordenou Deus: “Sai da tua terra, da tua parentela, da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei.” (Gn 12:1). Suponhamos que Abraão dissesse a Deus: “Não estou interessado; perdoe-me, Senhor, por não aceitar essa proposta. Estou muito bem aqui em Harã, tenho minha fazenda, muito gado, servos, renome local, e não desejo trocar meu conforto e estabilidade por uma viagem insólita.” Que seria do concerto?
As promessas e o concerto eram fruto da extraordinária graça e amor infinito de Deus, mas a graça não coagiria a vontade do ser. Abraão era um homem livre e, caso preferisse contrariar o plano de Deus, teria esse direito.
O concerto exigiu muita fé exercida através da paciência do patriarca. Parecia que o Senhor estava retardando a promessa, como se dissesse: “Abraão, você está em Minhas mãos. Farei o que prometi e quando Eu quiser.” O venerando homem deixou escapar uma pequena lamentação quanto à demora da promessa: “Senhor Deus, que me haverás de dar se continuo sem filhos.” (Gn 15:2) Deus renovou Sua promessa e Abraão creu na repetição do que Deus combinara com ele.
“A vida altruísta de Abraão tornou-o realmente um ‘espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens’. I Co 4:9. E o Senhor declarou que abençoaria os que bendissessem a Abraão, e puniria os que o maltratassem ou prejudicassem. Por meio da experiência de Abraão em sua vida religiosa, tem sido transmitido um correto conhecimento de Jeová a milhares de pessoas; e a sua luz lançará seus raios ao longo do caminho dos que praticam a piedade, a fé, a devoção e a obediência de Abraão.” E Recebereis Poder, 257.
TERÇA - Abraão, Sara e Hagar
Um triângulo amoroso que não deu certo. E por quê? Bem, tal situação é defectiva em todos os pontos. Deus fez uma mulher para um homem e um homem para uma mulher. Jesus falou sobre isso em Sua autoridade (Mt 19:4-6). A partir de Lameque (tetraneto de Caim) a determinação divina foi desrespeitada e a configuração do casamento passou a ter um homem e várias mulheres (poligamia). No tempo de Abraão, era costume arraigado de há muito ter o homem vínculo esponsal com duas ou mais companheiras.
Nosso bom patriarca, por sugestão da própria esposa, tomou a egípcia Hagar como mulher para gerar-lhe filhos. Talvez ele tenha pensado: “Bem, Deus disse que me daria muitos descendentes, porém, não especificou quem seria a geradora deles. Além disso, minha esposa autorizou-me a coabitar com sua serva para ter filhos com ela. Sara é estéril e jamais poderá ter filhos. Sendo assim, nada há de mal se Hagar me der descendência.” Esse comportamento moral de Sara no matrimônio estava mais estribado no Código de Hamurabi, conhecida lei daqueles tempos, e em outras leis orientais. Tabletes de argila descobertos em Nuzi, antiga cidade da Mesopotâmia registram disposições legais sobre contratos de casamento: “É obrigação o provimento de uma serva para o marido, caso a mulher não lhe dê filhos.”
Ora, o concerto fora feito com base nas promessas de Deus, aceitas unicamente pela fé. Isso queria dizer que o Senhor faria Sua parte em dar descendência ao velho Abraão. Ele, contudo, requeria continuidade ou firmeza de fé. Abraão fraquejou algumas vezes em sua confiança. Calvino escreveu que “a substância da fé possuída por Abraão e por Sara era deficiente, não em relação à promessa, mas em relação ao método pelo qual se cumpriria.”
Essa ação histórica proveu a Paulo a alegoria de que precisava para esclarecer os gálatas quanto à loucura de seu procedimento. Eles, mediante o evangelho de Cristo pregado por Paulo, haviam nascido livres em Jesus. Eram como Isaque, filhos da promessa e não como Ismael, filho de uma escrava, alguém de categoria social desprezível.
Por que o autor sagrado usa o Monte Sinai, ligando-o à Jerusalém palestina e os representa como símbolos de escravidão? As leis que Deus deu, por acaso escravizam? Se sim, então não são justas e se Autor não entende nada de legislação. Mas está escrito da primeira Lei dada no Sinai, que ela é “santa, justa e boa” (Rm 7:12). Das leis cerimoniais lemos: “Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor, meu Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a possuir. Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente.” (Dt 4:5, 6)
Onde, pois, a escravidão? Na forma como a Lei é entendida. Se vista como requisito sine qua non ao alcance do mortal para a obtenção dos favores divinos, então ela é nociva e letal. O pecador vai tentar observá-la com firme decisão, força de vontade, determinação e retidão própria. Vai se impor a obrigação de atender à sua forma de justiça, porém, é tão incompetente para atingir e cumprir o espírito da Lei, quanto uma tartaruga virada de patas para o ar retornar à posição normal.
Eis por que Paulo diz que a “Jerusalém atual” (Gl 4:25) está em escravidão. Na época em que Paulo escreveu a epístola aos gálatas, os judeus, simbolizados por sua cidade-orgulho, ainda estavam presos à lei abolida por Cristo na cruz. Barnes entende da mesma maneira: “Isto é, um escravo de ritos e formas, como de fato era no tempo de Paulo”.
Quem, porém, recebeu o bendito Evangelho de Cristo já é habitante da Jerusalém de cima. Seu nome está escrito no Livro da Vida do Cordeiro. Já é cidadão legítimo do Céu.
“Temos Sua promessa. Temos o direito de posse à propriedade real no reino da glória. Nunca foi elaborado um título de propriedade mais estritamente de acordo com a lei, nem assinado de modo mais legível, do que o que dá ao povo de Deus o direito às mansões celestiais. ‘Não se turbe o vosso coração’ - diz Cristo; - ‘credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, Eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando Eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para Mim mesmo, para que, onde Eu estou, estejais vós também.’ Jo 14:1-3.” MM95, 273.
A propósito, estude o manual de acesso à Nova Jerusalém: “Aos que se estão preparando para as mansões celestiais deve ser recomendado que façam da Bíblia seu principal livro de estudo.” FEC, 381.
QUARTA - Hagar e o Monte Sinai (Gl 4:21-31)
Não há nenhuma ligação histórica entre Hagar e o Monte Sinai. Ela era egípcia e morou com Abraão em Betel e depois Berseba. Sequer passou pelo Monte onde, mais tarde, Deus deu Sua Lei a Israel. Por que Paulo usou Hagar e o Sinai como alegoria da escravidão, da servidão? Leia Dt 33:2-4: “Disse, pois: O Senhor veio do Sinai e lhes alvoreceu de Seir, resplandeceu desde o monte Parã; e veio das miríades de santos; à Sua direita havia para eles o fogo da lei. Na verdade, amas os povos; todos os Teus santos estão na Tua mão; eles se colocam a Teus pés e aprendem das Tuas palavras. Moisés nos prescreveu a lei por herança da congregação de Jacó.” Pergunto: O que há de deletério e nocivo provindo do Sinais?
É útil repisar o ponto de que o problema não estava com a Lei Moral ou a ritualística. Nenhuma lei de Deus tem teor coercivo, escravagista, compulsório. Usemos um silogismo aqui para ver onde uma conceituação errada pode levar: premissa maior: Deus deu origem a todas as leis; premissa menor: As leis são instrumentos de escravaria; conclusão: Logo, Deus é o criador da escravidão. Veja que terrível enrascada origina esse raciocínio.
O pecado sim é que é escravocrata. Quem peca, escolhe fazê-lo e algema-se a si mesmo: “Quanto ao perverso, as suas iniquidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido.” (Pv 5:22) “Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo [mashal ou exercer domínio sobre ele].” (Gn 4:7).
Perceba que os gálatas escolheram entre o puro evangelho de Paulo e o “evangelho judaizante caduco”. Assim se puseram em escravidão a exemplo do que os israelitas fizeram no Sinai: “Então, o povo respondeu à uma: Tudo o que o Senhor falou faremos.” (Ex 24:3) Deste modo obrigaram-se pela palavra perante Deus, fazendo um voto de obediência. Mas não demorou muito e adoraram o bezerro de ouro anulando o voto. Caiu sobre eles o desagrado divino: “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes.” (Ec 5:4). Igualmente, o problema do Sinai foi a desobediência e não a Lei.
O “jugo da escravidão” de que fala Paulo no cap. 5, verso 1, concluindo sua argumentação exposta no cap. 4, refere-se claramente às leis cerimoniais sobrecarregadas de interpretações rabínicas e pensamentos de homens ao longo dos séculos. “É isto uma parábola para a época presente; e, segundo esta, se oferecem tanto dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto, os quais não passam de ordenanças da carne, baseadas somente em comidas, e bebidas, e diversas abluções, impostas até ao tempo oportuno de reforma.” (Hb 9:9, 10) “Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem.” (Cl 2:20-22)
O ritual do santuário e suas leis não eram jugo de escravidão, mas formas de edificar a fé se bem compreendidos. Com a deturpação dos “edificadores da religião”, aquilo que era útil e proveitoso tornou-se carga insuportável por causa dos doutores da Lei: “Mas Ele respondeu: Ai de vós também, intérpretes da Lei! Porque sobrecarregais os homens com fardos superiores às suas forças, mas vós mesmos nem com um dedo os tocais.” (Lc 11:46)
É importante notar que Jesus posicionou-se declaradamente a favor do código legal mosaico, pois disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17). Entretanto, Ele rejeitou com energia as ordenanças humanas e as compulsões impostas apenas pela tradição judaica (codificadas depois no Talmude), afirmando: “Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição. Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte. Vós, porém, dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que podereis aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta para o Senhor, então, o dispensais de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua mãe, invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes” (Mc 7:8-13).
“Os próprios discípulos de Cristo não estavam libertos, inteiramente, do jugo sobre eles posto pelos preconceitos herdados e pela autoridade dos rabinos. Manifestando agora o verdadeiro espírito desses rabis, buscava Cristo livrar da escravidão da tradição todos quantos na verdade desejassem servir a Deus.” DTN, 397.
Não incorramos na psicose de Esaú ao considerar a Lei de Deus um fardo. “A lei de Deus, que era a condição do concerto divino com Abraão, era considerada por Esaú como um jugo de escravidão.” PP, 178.
“Necessitamos diariamente de iluminação divina; devemos orar como Davi: ‘Desvenda os meus olhos, para que veja as maravilhas da Tua lei.’ Sl 119:18. Deus terá um povo sobre a Terra que vindicará Sua honra dando valor a todos os Seus mandamentos; e Seus mandamentos não são penosos, nem um jugo de servidão.” FO, 42.
“Os que fazem ousadas pretensões de santidade demonstram com isso que eles não vêem a si mesmos à luz da lei; não são iluminados espiritualmente e não sentem aversão a toda espécie de egoísmo e orgulho. De seus lábios manchados pelo pecado saem as expressões contraditórias: ‘Sou santo, sou sem pecado. Jesus me ensina que se eu guardar a lei, cairei da graça. A lei é um jugo de servidão.’ Diz o Senhor: ‘Bem-aventurados aqueles que guardam os Seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas.’ Devemos estudar diligentemente a Palavra de Deus para que cheguemos a decisões corretas e procedamos de acordo com elas; pois então obedeceremos à Palavra e estaremos em harmonia com a santa lei de Deus.” Idem, 95.
QUINTA - Ismael e Isaque hoje
Visto estarmos tratando de alegorias – Sara, Hagar, Monte Sinai, Jerusalém, Jerusalém Celestial, há duas delas que precisamos também entender: Ismael e Isaque. Ismael era da idade de 14 anos (foi circuncidado aos 13) quando Isaque nasceu. Na cabeça de Abraão, Ismael até então era o filho da promessa. Quase uma década e meia pensando que Ismael era o herdeiro e que dele viria a descendência que seria uma bênção a toda a humanidade. Deus abençoou, de fato, a Ismael dando-lhe tantos descendentes que formariam uma grande nação - os ismaelitas (Gn 17:20) que viveram ao norte da Arábia e a leste da Síria. Porém, o Senhor não se agradou de Ismael para torná-lo antecessor do vitorioso Messias. Dele foi profetizado: “Esse filho será como um jumento selvagem; ele lutará contra todos, e todos lutarão contra ele. E ele viverá longe de todos os seus parentes.” (Gn 16:12) EGW diz que ele possuía uma disposição turbulenta, desrespeitosa.
Isaque foi gerado de Abraão e Sara. Ele, sim, tornou-se o herdeiro espiritual de Abraão. A promessa de Deus referia-se a Isaque e não a Ismael. Não por que esse era filho de escrava. Ismael não era escravo nem servo; era progênie ou descendência de Abraão. Entretanto, por viver isolado do povo e da Lei de Deus, apostatou-se. O secundogênito (Isaque) era o verdadeiro primogênito por viver a fé de seu pai.
Os Ismaéis de hoje são os contenciosos da igreja, cuja mão é contra todos e a mão de todos contra eles. Estão interessados em contender, dividir, desconstruir e duvidar. São escravos de suas próprias paixões. Perseguem os que querem viver de acordo com as Escrituras e os Testemunhos, taxando-os de estreitos, fanáticos, retrógrados. Montam até sites para investir turbulentamente contra os servos de Deus que, apesar de terem suas fraquezas e cometerem deslizes, estão fazendo a obra como Neemias: “Estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria a obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco?” (Nee 6:3) Fundam editoras, editam livros, panfletos, revistas; usam a Internet para trazer vergonha sobre a causa de Deus. Uma coisa não são: “escravos de Cristo” (ver I Co 7:22)!
Os Isaques são aqueles que, apesar de suas deficiências morais e deslizes, temem a Deus e procuram fazer firme sua vocação em Cristo Jesus. São filhos da promessa, sendo descendentes de Abraão (Gl 3:29), herdeiros da Nova Terra, possuidores de todos os bens do Pai.
“Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus.” (Mt 8:11) Por que estarão à mesa das bodas do Cordeiro na Jerusalém de cima? Vindos de todas as nações (Oriente e Ocidente), aqueles que aceitaram a “descendência de Abraão” mediante a fé no sacrifício todo-suficiente de Cristo viverão a eterna felicidade.
“O caso de Isaque está registrado como um exemplo a ser imitado pelos filhos das gerações posteriores, especialmente aqueles que professam temer a Deus.
“O caminho que Abraão seguiu na educação de Isaque, e que o levou a amar uma vida de nobre obediência, foi relatado para benefício dos pais, e deve levá-los a ordenar sua casa após eles. Devem instruir os filhos a se renderem a sua autoridade e respeitá-la. Devem sentir a responsabilidade que sobre eles repousa, de guiar as afeições dos filhos, de modo que elas sejam postas sobre pessoas a quem o seu discernimento indique tratar-se de companheiros dignos para seus filhos e filhas. HR, 86.
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