(por José Francisco Alves)
“O contato com a mediocridade gera mais mediocridade. Os medíocres têm medo da literatura, dos clássicos e da leitura. Têm medo do esforço, do trabalho - e da história. Acham que a escola serve para paparicar a banalidade que os miúdos levam da rua e da televisão. Eles são um perigo que anda à solta, espalhando mais mediocridade, impunemente.” (Francisco Viegas, Jornal de Notícias.)
O mal do século, segundo Richard Foster, não é o câncer, não é a AIDS, nem a Gripe H1N1, nem ainda a violência ou a corrupção, mas é a superficialidade. Um produto natural de uma época como esta é a mediocridade. Tanto a superficialidade como a mediocridade (irmãs gêmeas), não existem no vácuo, mas se expressam em pessoas. Todos nós temos, em algum momento da nossa vida, oportunidade (vergonhosa!) de expressar um “pouquinho” de mediocridade, mas tem pessoas que são absolutamente viciadas!
Esse vício, como produto do meio (e também como fomentador do meio) é assustador porque, entre outras coisas, ele é causador de outros vícios. Além disso, ele também cresce e se espalha como uma grande epidemia! Não há esfera da sociedade que não sofra de algum modo com esse mal. Mas não há lugar pior para esse vício maldito mostrar as suas garras do que na Igreja!
Os viciados em mediocridade na Igreja são amantes de si mesmo, amantes da teologia da prosperidade, caçadores dos caminhos fáceis, dos atalhos; fascinados pelos milagres, vivem enfiados nas “milagrolandias” da vida. As “milagrolandias” são igrejas sem compromisso com a Verdade, espalhafatosamente dirigidas por verdadeiros traficantes de “promessinhas”, que misturam linguajar e versos bíblicos em seus discursos entorpecentes, causando dependência mortal, e tirando daí o seu sustento!
Quanto aos viciados, a pregação bíblica lhes causa crise de abstinência (do besteirol); a leitura, sobretudo da Bíblia, é para eles um martírio; a reflexão teológica, um pesadelo. Quando estão em suas “viagens” têm sensação de plenitude, e quando afinal espalmam as mãos para cima e dizem “amém”, voltam para casa com o ar de dever cumprido: “domingo tem mais!”-... Pobres viciados!
Os medíocres estão no poder
Nada mais natural para uma era de superficialidade intensa. Pois, se a mediocridade se espalha com essa velocidade alucinante é porque tem uma liderança medíocre por trás. Como disse A.W.Tozer, todo povo é, ou virá a ser, aquilo que seus líderes são.
Logo, os viciados têm uma boa fonte de abastecimento. Como esses líderes são megalomaníacos, e os viciados em geral são fascinados pela “grandeza e o poder”, temos um sistema desgraçadamente auto-sustentável. Os líderes fingem se importar com as mazelas dos pobres seguidores. Alimentam as ilusões com milagres forjados, com palestras motivacionais (eu não ousaria chamá-las de pregação), mega-construções, mega-eventos, entretenimento à vontade, repletos de celebridades “gospel”, que servem como exemplos de vitória. E as massas pensam que um dia também vão andar de helicóptero, viajar pelo mundo, alcançar status social... Pobres viciados iludidos!
Alegram-se em fazer parte, mas na realidade não fazem. As decisões dos líderes medíocres são sempre unilaterais, privilegiando a superficialidade e desprezando quem de fato pode contribuir. Assim, ao longo do caminho, vão perdendo pessoas valorosas. Mas, porque se importar? Nunca faltarão bajuladores!
A Bíblia é tediosa nesse esquema, existe uma imitação bisonha de ensino e uma pseudo-preocupação com o conhecimento. Porém, é só olhar mais de perto para se perceber que tudo não passa de encenação. Não se incentiva os jovens a crescer no conhecimento, até porque os jovens logo questionarão. Melhor mantê-los ocupados com a “arte”. As crianças são tratadas como parte do espetáculo, o que de certa forma já as deixa bem encaminhadas no esquema. São engraçadinhas e risonhas, e dar uma encenada atenção a elas aumentará a popularidade e solidificará a perpetuação no poder. Se você acha que esse "maquiavelismo" é exagero, dê uma boa olhada à sua volta!
“Ainda há esperança”
Estes são alguns aspectos de uma realidade deprimente e desanimadora na Igreja Brasileira, mas continuamos crendo no poder transformador e restaurador do Evangelho. E é isso que nos dá esperança. Esperança não de que esse cenário vai mudar como um todo, mas de que a Igreja de Cristo é viva, e que o Senhor da Igreja dando a ela disposição para ser “coluna e esteio da verdade”, trará libertação a muitos!
Que o Senhor tenha misericórdia de nós!
Fonte: Emunah
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