O Caminho para a Fé - Comentários da Lição 7

Lição 07 – 05 a 11 de novembro de 2011
(Comentários do irmão César Pagani)

VERSO EM DESTAQUE: “Mas a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que creem.” (Gl 3:22)

“Porém as Escrituras Sagradas afirmam que o mundo inteiro está dominado pelo pecado, e isso para que as pessoas que creem recebam o que Deus promete aos que têm fé em Jesus Cristo.” (Gl 3:22 – NTLH) Em outras palavras, a Santa Bíblia mostra ao homem que ele está numa situação insustentável de transgressão contra o Céu, e que seu destino é a morte sem ressurreição eterna. Todos são pecadores. Ninguém escapa da jurisdição do pecado. Todos pecaram e carecem da glória de Deus.

Mas as Escrituras trouxeram também esperança, mostrando que Jesus veio buscar e salvar o que se havia perdido. Quem no Evangelho salvador e for batizado, será salvo; quem não crer, continuará encerrado debaixo do pecado até o dia do Juízo Final.

“Multidões, multidões no vale da Decisão! Porque o Dia do Senhor está perto, no vale da Decisão.” (Jl 3:14) O vale da decisão é o tempo (tempo do fim) em que Deus julgará o mundo através de Cristo Jesus (At 17:31). Dois processos de decisão estão envolvidos nesse tempo: 1) O julgamento investigativo que envolve todos os que, em todos os tempos, professaram o nome de Deus e 2) O julgamento do mundo que rejeita o evangelho de Cristo e prefere seus próprios e ímpios rumos.

Deus planejou em Seu amor que cada criatura que vivesse no tempo do fim tivesse a oportunidade de tomar sua decisão por Cristo ou contra Ele. Para isso a Igreja é animada e compungida a acelerar a proclamação das boas-novas da salvação pela fé em Jesus.

O tempo do fim exige urgentemente o derramamento do Espírito Santo sobre uma igreja humilde, penitente e sequiosa de ajudar Miguel na conclusão de Sua obra.

Não estamos orando nós por despertamento, reavivamento e reforma? Não estamos, mediante o Espírito, sendo preparados para o assalto final ao pecado e seu reinado maldito? Quem orar e se humilhar receberá o dom prometido por Jesus. Aí, então, ser-Lhe-emos testemunhas tanto em Jerusalém, em Samaria e até os confins da Terra.

“Precisa haver um reavivamento e uma reforma, sob a ministração do Espírito Santo. Reavivamento e reforma são duas coisas diversas. Reavivamento significa renovamento da vida espiritual, um avivamento das faculdades da mente e do coração, uma ressurreição da morte espiritual. Reforma significa uma reorganização, uma mudança nas idéias e teorias, hábitos e práticas. A reforma não trará o bom fruto da justiça a menos que seja ligada com o reavivamento do Espírito. Reavivamento e reforma devem efetuar a obra que lhes é designada, e no realizá-la, precisam fundir-se.” ME1, 128.

DOMINGO - A Lei e a promessa

“É a Lei, porventura, contra as promessas de Deus? De modo nenhum. Pois se tivesse sido dada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na verdade, teria sido pela Lei.” (Gl 3:21 – Tradução Brasileira)

O espírito da Lei divina é o requerimento de uma justiça tão perfeita quanto a de Deus, visto ser ela a expressão do caráter do Senhor.

Não é a Lei um caminho para a fé que salva e traz justiça? Confira: “De maneira que a lei nos serviu de aio [gr. paidagogos – tutor, guia, guardião] para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé.” (Gl 3:24)

O conceito teológico aqui é simples. A Lei perturba o pecador mostrando-lhe sua desesperada e angustiosa condição. Caso sua vida venha a findar-se num momento, ele está perdido para sempre e se transformará em cinza para ser pisado pelos justos que habitarão a Nova Terra. “Pisareis os perversos, porque se farão cinzas debaixo das plantas de vossos pés, naquele dia que prepararei, diz o Senhor dos Exércitos.” (Ml 4:3). Agitado pela capacidade condenatória da Lei e convencido de pecado pelo Espírito Santo, o transgressor se vale da promessa redentora de Cristo Jesus: “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido.” (Lc 19:10)

Há também a promessa de galardão para quem guardar os mandamentos de Deus – Cristo entra no coração do penitente, santifica-o ou harmoniza-o com os santos preceitos. Quem está em consonância com a Lei fica habilitado às promessas de Deus. Deus promete morte aos transgressores contumazes. A promessa da vida eterna está ligada também aos mandamentos, porém em outra esfera. “Respondeu-lhe Jesus: Por que Me perguntas acerca do que é bom? Bom só existe um. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos.” (Mt 19:17) O que Jesus queria ensinar ao apresentar a Lei divina como condição da vida eterna? Vamos tentar redigir o possível diálogo entre o Mestre e o jovem doutor da lei:

- Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?

- Você, meu querido jovem, deve praticar a justiça que há na Lei de Deus.

- Que justiça, Senhor?

- A que está contida nos preceitos “não matarás”, “não furtarás”, “não dirás falso testemunho contra o teu próximo...

- Então estou quite com a Lei, pois a tenho guardado desde a minha meninice.

- Ora, assim sendo, vamos dar mais um passo de justiça para que você tome posse da promessa de Meu Pai. Venda os seus bens, alimente os muitos pobres de Jerusalém e venha ser Meu apóstolo, Meu discípulo.

Diálogo encerrado. O moço retirou-se triste.

Caso ele fizesse o que Jesus recomendou, escancararia os portais celestiais para receber todas as bênçãos das promessas.

Jesus não lhe pediu as obras da Lei do jeito que ele estava acostumado a observar. Ele solicitou renúncia, corte dos fortes laços com a idolatria do dinheiro. Cristo mandou segui-Lo e conviver com Ele para ver como a promessa de Deus e a Lei andam juntas. A Lei não é antagonista da promessa.

É imperioso entender bem o papel da Lei. A promessa é feita para que o pecador alcance a justiça que existe na Lei por meio de Jesus Cristo, o único ser humano que guardou perfeitamente e sem o mínimo reparo, os mandamentos de Deus. A Lei de Deus só dá justiça e vida àquele que se rende inteiramente à guia e ao senhorio de Cristo Jesus. É por isso que a justiça só pode ser imputada e não obtida pela eventual observância. Só pode guardar a Lei quem é justo mediante Cristo Jesus e recebe poder celeste para isso.

Apenas podemos ser os benditos juntamente com Abraão, se recebermos a promessa de salvação trazida pelo seu Descendente, Cristo Jesus, que nos trouxe salvação.

Não posso escolher entre a promessa e a Lei. Não há esse tipo de proposição ou opção nas Escrituras. A fé na promessa de purificação mediante o Salvador crucificado, leva o violador dos santos preceitos a lançar-se desesperadamente aos pés de Cristo para obter perdão ou justificação. A Lei, concluímos, conduz à promessa da doação do Redentor, entregue pelo amor de Deus à humanidade.

Uma pergunta: Por que os anjos do Céu vivem eternamente? Primeiramente porque receberam vida perene diretamente do Pai, a Única fonte de existência. Em segundo lugar, porque se encontram em harmonia com os preceitos divinos. Os anjos que pecaram (Satã e seus simpatizantes) estão condenados à morte eterna. A Lei só justifica quem é santo. A Escritura considera todos os homens pecadores; por conseguinte, vendo-lhes a impossibilidade de alcançar a vida e a justiça pela Lei, Deus formulou-lhes a promessa de vida eterna e justiça através do sangue de Cristo. O sangue de Jesus Cristo os purifica de todos os pecados e do pendor de pecar.

Depois de os santos serem glorificados por Cristo e receberem a imortalidade, a promessa não mais existirá, mas a Lei sim. Agora a promessa é para a obtenção da justiça de Cristo. Ela precede a Lei para obtenção da justificação: primeiro vem a promessa de perdão, depois o perdão em si e posteriormente a renovação em justiça, para que se cumpra o que a Escritura diz sobre os santos: “Aqui está um chamado para a resistência dos santos, aqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” (Ap 14:12 – Revised Standard Version)

SEGUNDA - “Debaixo da Lei”

Paulo continua discorrendo sobre o papel da Lei. No verso 23 de Gl 3 ele a descreve vindo antes da fé em Cristo como tutora e confinadora. “Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar.” (VARC) Outra versão fala em “tutela [proteção ou amparo] da lei”. Philips fala em “aprisionados sob o poder da lei” e que a “única esperança de livramento era pela fé que seria revelada”.

Por que o uso de termos tão severos pelo apóstolo? Para mostrar a gravidade da situação do pecador injustificado. A Lei que veio antes da fé tinha como propósito “avultar” a ofensa (Rm 5:20). Com o conhecimento da justiça absoluta da Lei, o pecador ficou encurralado moralmente. Viu-se desesperadamente perdido. Pensou que nem mesmo uma fiança de quintilhões de dólares (que, sem dúvida, jamais poderia saldar. Ver a parábola do credor incompassivo – Mt 18:24) lhe daria liberdade da condenação. Ele foi encerrado “debaixo da lei”, como se estivesse sendo comprimido por uma prensa de 100 toneladas.

Qual é a fé que “demorou” a chegar – aquela que veio depois da lei - enquanto os pobres pecadores gemiam sobre a condenação da Lei? A que fé se refere Paulo, visto que ela existe desde que o Senhor disse: “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gn 3:15)? Ora, o plano da salvação não era para ser implementado pela fé muito antes da fundação do mundo? Sim! Porém, a fé se tornou muito mais clara quando Jesus Se encarnou: “Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.” (Jo 1:17) O SDA Bible Commentary diz a respeito dessa fé: “A fé do Antigo Testamento foi recompensada pelo primeiro advento de Cristo (ver Rm 16:25, 26; Hb 1:1, 2). Antes da encarnação a promessa do Redentor vindouro requeria fé em que Deus iria cumprir a promessa. Com a vinda de Cristo, a encontrou a realidade.” (pp. 960, 961) "Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho ... para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos." (Gl 4:4 e 5)

Os judeus foram conduzidos por mais de um milênio pelos preceitos morais, cerimoniais e religiosos do sistema que Deus estabelecera. Esse complexo legal tinha o escopo de desenvolver fé no Salvador futuro por meio de símbolos, regulamentos de justiça, imagens e ritos. Era temporário, com exceção dos Dez Mandamentos, “até que viesse o Descendente a quem se fez a promessa” (Gl 3:19).

O livro “Consultoria Doutrinária” da CASA acrescenta alguma compreensão a mais sobre o assunto.

“Vê-se, claramente, que Paulo endereçava tais palavras a crentes convertidos, para os quais o mundo já havia morrido. Como se não bastassem esses versos [refere-se aos versículos de Rm 6] citados, leiamos o 17 e 0 18: ‘Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes chamados. E, libertados do pecado, fostes servos da justiça.’

“Ora, a expressão ‘obedecestes de coração à forma de doutrina’ equivale a ‘guardastes a Lei de Deus’. Sendo assim, os crentes de Roma estavam libertos do pecado, isto é, livres da condenação da lei enquanto obedecessem aos seus reclamos pela graça de Cristo. Ademais, note-se que a própria passagem em lide declara que aqueles a quem Paulo se dirige, não estão ‘debaixo da lei’, porque ‘o pecado [e não a lei] não terá domínio sobre eles.’” (p. 16)

Debaixo de chuva é estar encharcado até os ossos e sujeito a gripes, resfriados e até pneumonias. Debaixo do guarda-chuva é estar protegido do aguaceiro. Estamos agora cobertos pelo “guarda-chuva” da justiça de Cristo, mas não podemos baixá-lo, senão a tempestade (do pecado) nos pega de jeito.

“Quem sabe num dia não muito distante – pode ser até hoje mesmo, o Espírito de Deus lhe faça sentir profundamente a convicção de pecado. Você pode ter estado cheio de dúvidas e hesitações; pode ter procurado todo o tipo de desculpas e evasivas, mas nesse momento não terá como argumentar. Não lhe restará dúvida alguma com respeito à realidade de Deus e do Espírito Santo e nem terá a mínima condição de refutá-la. Reconhecerá a voz de Deus rogando à sua alma e você clamará como do antigo Israel: “... Porém não fale Deus conosco para que não morramos.” (Êx. 20:19). Você saberá o que é estar numa prisão cujas paredes acham-se bem próximas, quem sabe a 10cm de seu corpo, tornando impossível qualquer movimento ou ação de fuga. A sensação é sufocante. As histórias de pessoas que foram condenadas ao sepultamento vivo sob uma pesada laje de pedra lhe darão a vívida impressão de como é sentir-se quando as tábuas da Lei comprimem sua alma e você sente o peso da mão da justiça.

“Nesse ponto você poderá encontrar alegria ao lembrar-se de que só esteve debaixo do pecado com o propósito de receber pela fé a promessa do Espírito de Cristo (Gl 3:14). Apegando-se à promessa, descobrirá que ela é a clava para abrir o sepulcro da dúvida e da transgressão. ‘Salvou-se a nossa alma, como um pássaro do laço dos passarinheiros; quebrou-se o laço, e nós nos vimos livres.’ (Sl 124:7)” – Adaptado de ‘El Progreso del Peregrino”.

TERÇA - A Lei como nossa “defensora”

Qual é o conteúdo da Lei? Justiça, santidade, retidão, perfeição. É ela um modelo para a harmonia com o caráter de Deus e com o Universo. E isso é muito bom! Tudo quanto diz é santo, justo e bom. Ela estimula a apreensão da promessa de Deus pela fé em Cristo. Como um guia ou aio, leva-nos a Cristo. Aponta-nos o Salvador mediante cujo sacrifício podemos reconciliar-nos com Deus. Em outras palavras, como transgressor da Lei sou remetido pela Lei a Jesus Cristo para a salvação.

Temos aqui um paradoxo não contraditório, isto é, se por um lado a Lei me condena à morte por falta de justiça, por outro ela cria premente necessidade de um Salvador perfeito e me manda a Ele para absolvição.

Entendemos então que a Lei não é contrária às promessas (Gl 3:22). Se não é oposta, é a favor, certo? Sendo a favor das promessas, segue-se que também é benfeitora ao pecador ao qual as promessas foram feitas e garantidas pelo sacrifício de Cristo.

Ao estarmos “encerrados” ou “encarcerados” pela lei, vivíamos de certo modo sob sua proteção. Como? O temor santo produzido por ela impunha-nos restrições que, se não existissem, certamente nos deixaria mergulhados no mais profundo abismo e sem chance de resgate. Compará-la-íamos a uma UTI. Imaginemo-nos como pacientes em estado de coma. Internados na UTI estamos “encerrados” naquela sala especial para preservação da vida. Não podemos sair dela até que os médicos nos julguem aptos para a remoção. Na UTI há processos ativos de assepsia total para evitar contaminação e infecções. Esses só podem funcionar naquele ambiente. A Lei nos pôs em estado de coma espiritual. Agravou-nos a infecção do pecado, mas, ao mesmo tempo, encerrou-nos sob seus cuidados para evitamento de mal maior.

Quando a Escritura colocou tudo e todos debaixo do pecado usando a Lei, proporcionou-nos ensejo de, por intermédio da fé em Jesus, obter a concessão da promessa (Gl 3:22)

Nos textos em investigação nesta lição, Paulo reconhece que há justiça na Lei. Claro, pois ela é um transunto ou traslado na justiça de Deus. Porém, ele conclui que essa justiça é inatingível por meios humanos. O homem é obrigado a submeter-se a ela, porém, como incapaz, não pode responder por sua observância.

Justamente nessa mortal situação, entra em cena a solução divina para dar à Lei seu devido mérito. “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar [transgredir a justiça da Lei] , temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo.” (I Jo 2:1)

Jamieson, Fawcett e Brown comentam que “a advocacia de Cristo é nosso antídoto contra o pecado, enquanto caminharmos na luz. Para conhecer a Deus, precisamos guardar Seus mandamentos e amar os irmãos, não amar o mundo e nem dar ouvidos aos anticristos, contra os quais nossa segurança é dada através da unção divina interior, para que habitemos nEle. Assim, não seremos envergonhados na vinda de Cristo”.

A beleza da Lei que refulgiu na vida de Cristo, leva-nos a Ele - “Na época atual, a Igreja precisa vestir suas belas vestes – ‘Cristo, justiça nossa’. Há distinções claras e precisas a serem restauradas e expostas ao mundo, exaltando-se acima de tudo os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. A beleza da santidade deve aparecer em seu brilho natural, em contraste com a deformidade e trevas dos que são desleais, daqueles que se revoltam contra a lei de Deus. Assim reconhecem a Deus, e a Sua lei - fundamento de Seu governo no Céu e em todos os Seus domínios terrestres. Sua autoridade deve ser conservada distinta e clara perante o mundo; e não ser reconhecida lei alguma que esteja em oposição às leis de Jeová. Se, em desafio às disposições divinas, for permitido ao mundo influenciar nossas decisões ou ações, o propósito de Deus será frustrado. Se a Igreja vacilar aqui, por mais enganador que seja o pretexto apresentado para tal, contra ela haverá, registrada nos livros do Céu, uma quebra da mais sagrada confiança, uma traição ao reino de Cristo. A Igreja tem que manter seus princípios perante todo o Universo celeste e os reinos deste mundo, de maneira firme e decidida; uma inabalável fidelidade na manutenção da honra e da santidade da lei de Deus, despertará a atenção e admiração do mundo, e muitos, pelas boas obras que contemplarem, serão levados a glorificar nosso Pai celestial. Os que são leais e verdadeiros, são portadores de credenciais do Céu e não dos potentados da Terra. Todos os homens saberão quem são os escolhidos e fiéis discípulos de Cristo, e os conhecerão quando forem coroados e glorificados como hão de ser os que honraram a Deus, e a quem Ele honrou, tornando-os possuidores de um peso eterno de glória.” IR, 13.

QUARTA - A Lei como nossa mestra

A tutela da Lei – Há uma figura funcional pedagógica que pode explicar em parte o conceito tutelar da lei; é a do professor-tutor. Ele precisa ser um elemento crítico e mediador, e incentivar os alunos a trabalharem por si próprios nas atividades previstas em cada unidade didática que compõe a estrutura curricular do curso.

Sem querer extrapolar demais a atividade tutorial pedagógica, gostaríamos de compará-la à função mestral ou professoral da Lei de Deus. A Lei é crítica, sim. Crítica em sua atribuição de julgar o que está errado, apresentando o que é certo. A Lei pode ser mediadora? Dependendo do sentido que damos ao substantivo “mediação”. Visto estar inclusa na mediação o liame ou ligação de uma coisa à outra, o aio ou pedagogo de que a Lei nos serve faz uma ponte com Cristo Jesus, para sermos salvos dos delitos praticados contra o Deus da Justiça. Ela também nos incentiva a lutar contra o pecado naquilo que depender de nós, isto é, escolhermos sempre os caminhos da justiça, aplicando contundentes golpes ao próprio eu para reduzi-lo à servidão. Ao mostrar-nos a gravidade imponderável da transgressão, ela nos impulsiona a fugirmos de suas justas ameaças e escapar para Deus, o Único que nos pode livrar de quebrantá-la.

A Lei, como expressão do caráter divino, tem um universo infindável de coisas a nos ensinar. O Professor-Tutor que nos ministra o ensino é o Espírito Santo. É Sua função ensinar-nos os preceitos da Sagrada Lei. “Bendito és Tu, Senhor; ensina-me os Teus preceitos.” “Ensina-me, Senhor, o caminho dos Teus decretos, e os seguirei até ao fim.” (Sl 119:12, 33) Somos favorecidos pela Lei (Sl 119:29). De nossa parte, temos de nos sujeitar humildemente ao aprendizado, às vezes ficamos DPs (termo universitário para matérias não concluídas) por negligência.

Uma oração oportuna a fazer quando estudamos para compreender a Lei de Deus: “As Tuas mãos me fizeram e me afeiçoaram; ensina-me para que aprenda os Teus mandamentos.” (Sl 119:73) Como criação do Senhor temos condições, mediante o Espírito, de ampliar nossos conhecimentos da Constituição do Céu.

Veja um exemplo interessante pode ser extraído do ensino do quarto mandamento (Lei): “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro.” Esta é a sábia síntese do mandamento. Mas a Escritura regulamenta e amplia o preceito, dizendo: “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no Senhor.” Eis uma das regulamentações mostrando a extensão do preceito legal, incluindo a não profanação mediante obras incompatíveis com o espírito sabático, o pronunciamento de palavras impróprias para o tempo sagrado, a feitura da vontade pessoal voltada para entretenimentos, viagens não-missionárias, folguedos, etc. É obrigação também “amar” o sábado e considerá-lo digno de honra, não pelo tempo físico em si, mas em devoção ao Senhor que o criou e o pôs como memorial de Sua autoridade. É dia de colóquio total com o Criador.

Outro ponto vital a considerar é que a regulamentação ou explicação completa da Lei está contida em todas as Escrituras Sagradas, que foi dividida por Cristo em “Lei, profetas e salmos”. E mesmo a segunda e terceira divisões contêm ampliações da compreensão dos mandamentos.

Como aprender mais da Lei – “Bem pouco benefício, porém, se tira de uma leitura apressada das Escrituras. Poder-se-á ler a Bíblia inteira e, contudo, deixar de reconhecer-lhe a beleza ou compreender-lhe o sentido profundo e oculto. Uma passagem que se estude até que seu sentido seja claro ao espírito e evidente sua relação para com o plano da salvação, é de maior valor do que a leitura de muitos capítulos sem ter em vista nenhum propósito definido e sem adquirir nenhuma instrução positiva. Levai convosco a Bíblia. Quando tiverdes oportunidade, lede-a; fixai as passagens na memória. Mesmo enquanto estais a andar pela rua, podeis ler uma passagem e meditar sobre ela, fixando-a assim.” CC, 90.

O mais nobre aprendizado - “Onde acharemos leis mais nobres, puras, e justas do que as que se acham expostas nos livros dos estatutos, nos quais está registrada a instrução dada a Moisés para os filhos de Israel? De que outra fonte podemos colher semelhante força, ou aprender tão nobre ciência? Que outro livro ensinará tão bem aos homens a amar a Deus, temê-Lo e obedecer-Lhe? Que outro livro apresenta aos estudiosos ciência mais enobrecedora, história mais maravilhosa? Ele retrata claramente a justiça, e prediz a consequência da deslealdade para com a lei de Jeová.” CPPE, 498.

“O Senhor reservou para Si a educação e a instrução de Israel. Seu cuidado não se restringia aos interesses religiosos deles. Tudo que afetasse seu bem-estar mental ou físico tornava-se também objeto de solicitude divina e incluía-se na esfera da lei divina.” FEC, 95.

QUINTA - A Lei e o crente (Gl 3:25)

“Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio.” (Gl 3:25). Veja o texto original e sua forma versionada em português:

Tradução                                    Forma Grega

Mas                                            δέ de

depois que a fé                     πίστις pistis (convicção)

adveio                                      ἔρχομαι erchomai (apresentou-se)

estamos                                   ἐσμέν esmen (estar)

não mais                                  ἔτι eti (livres)

sob                                              ὑπό hypo

(a tutela do) pedagogo      παιδαγωγός paidagōgos (Entre os gregos e os romanos, o nome era aplicado a escravos dignos de confiança que eram encarregados de supervisionar a vida e a moralidade dos meninos pertencentes à elite. Aos meninos não era nem mesmo permitido sair de casa sem a sua companhia até que alcançassem a idade apropriada.


Quando concluímos um mestrado ou doutorado e recebemos nosso certificado, por exemplo, não precisamos mais dos serviços do professor orientador. Ele contribuiu para que montássemos nossa tese de conclusão, corrigiu-nos, criticou- nos e leu o texto final da dissertação. Isso posto, cumpriu sua missão específica. Ele não deixará de ser mestre porque encerrou suas obrigações conosco. Continuará exercendo seu magistério, transmitindo seus conhecimentos e formando novos mestres e doutores. Sua capacidade não será anulada porque nos transmitiu a ciência.

A Lei realizou sua função de aio ou pedagoga. Ela não deixa de existir porque nos levou a Cristo para que fôssemos salvos por Seu sacrifício. Agostinho de Hipona declarou: “A Lei é dada para que a graça possa ser exigida; a graça é concedida para que a Lei possa ser cumprida.” (texto extraído da obra Paul and the Law, de Charles D. Utt.

O Dr. Strong, renomado hebraísta, afirma: “A graça, contudo, não deve ser entendida como se ab-rogasse a Lei, mas sim como reafirmando-a e estabelecendo-a (Rm 3:31 ‘estabelecemos a lei’). Pelo fato de remover o que impede o perdão que Deus concede, e de habilitar o homem a obedecer, a graça assegura o perfeito cumprimento da Lei (Rm 8:4 ‘para que a justiça da lei se cumprisse em nós’).” A. H. Strong, Systematic Theology, p. 548.

Outro aspecto é que a Lei não tem apenas a função de aio. Ela é tão completa que reúne multíplices papéis. Ela é santa, justa, boa, perfeita, regra de vida, cartão de visita do Legislador, traz felicidade, alegria, harmonia, equilíbrio, paz...

Pensemos: A Lei nos serviu (pretérito perfeito) ou ainda nos serve (presente do indicativo) de aio ou pedagogo para nos levar a Cristo? Quando cometo pecado, quem me impele a buscar o Senhor Jesus para obter remissão? Você responderá corretamente: “O Espírito Santo”. E está certo. Mas em que base o Espírito me convence de pecado? Com base em Sua própria Lei.

Solomon L. Grinsburg, pastor batista de nomeada, em seu livro O Decálogo ou os Dez Mandamentos, pp. 4 e 7 expressou-se com meridiana clareza: “As ideias que alguns fazem da Lei de Deus são errôneas e muitas vezes perniciosas. O arrojo ou a ousadia dos tais chega ao ponto de ensinar ou fazer sentir que a Lei já foi abolida... Os que ensinam a mentira de que a Lei não possui mais valor... ainda não leram com certeza os versículos que nos servem de texto (Mt 5:17-19). Deus não muda, nem o Seu poder, nem a Sua glória; Seus preceitos são eternos.”

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