(Sermão fúnebre apresentado pelo Pr. Arilton na despedida de seu irmão, no domingo, 10 de junho).
O dia 09 de junho não será mais lembrado por nossa família como um dia comum. Enquanto recapitulava a lição da Escola Sabatina e me preparava para mais um sábado de atividades na igreja o telefone celular tocou. Eram 7:28 da manhã.
O número era de minha irmã, Penha, mas a voz era de seu filho Iveliks. As palavras “Tio, não tenho uma boa notícia”, prenderam minha atenção como um pênalti marcada aos 45 minutos do segundo tempo de uma partida de futebol. Nós, os seres humanos, que existimos em família, de certa forma vivemos ansiosos pelo bem estar das pessoas que amamos.
A primeira imagem que veio à minha mente foi a de minha mãe. Já com seus quase 80 anos, saúde debilitada, mas o pensamento foi interrompido pela triste anúncio: “É o tio Dão. Ele teve um infarto hoje cedo e morreu”. O chão desaparece sob meus pés – a vida passa em sua mente em um minuto – aconteceu o que todos sabiam, mas que tentamos evitar, driblar, um ente querido se foi.
Algumas vezes em conversa com meu irmão, Pr. Antonio, principalmente depois de reuniões da família marcadas por brincadeiras, futebol, comida e boas risadas, sempre dizíamos, até quando teremos toda a família juntos. Os 9 filhos, pai e mãe. Quando e quem será o primeiro a nos deixar?!
Ontem, 09 de julho, de forma trágica e inesperada veio a resposta, e como foi amargo o sabor da descoberta!
Naquele momento, o que me veio a mente foi o texto de Paulo: “O salário do pecado é a morte”. Romanos 6:23. E cedo ou tarde o pecado cobra um alto preço. Desde que nossos primeiros pais, Adão e Eva, perderam o direito à árvore da vida por causa da desobediência, do pecado, o ser humano tem amargado o gosto da morte. Ele sempre quando ela chega arranca de nós as pessoas que amamos. Desta vez foi meu irmão, João.
Alguns o apelidaram de “Ferrim”, ou Dão, o cartório o registrou como João Cordeiro de Oliveira, que no próximo 01 de dezembro completaria 52 anos de vida. Ele parte e deixa esposa, 4 filhos, 8 irmãos, pai e mãe e tantos outros parentes e amigos. Ele deixa de fato um vazio.
a) Uma cama vazia – pensei em sua esposa, Lena, companheira do dia-a-dia. Como seria seu primeiro domingo sem o esposo, e agora com título de viúva.
b) Pensei nos filhos – a partir de agora órfãos de pai.
c) Pensei na Sabrina – com data marcada para o casamento – agora não mais tem um pai para entrar com ela.
d) Pensei na Camila, Diego, João Vitor.
e) Pensei nos nossos pais – já idosos, e a despeito da preocupação com os filhos, netos, bisnetos, os problemas de saúde, tem que enfrentar a dor de sepultar um filho. O mesmo que carregaram no colo, viram crescer e virar homem, pai, avô...
Esse é nosso mundo depois da realidade do pecado! Enquanto ponderava estas coisas, duas lágrimas rolaram, uma lágrima de tristeza e uma de esperança.
Lágrima de tristeza
Em momentos difíceis como este é difícil entender Romanos 8:28, onde declara que “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”. Como pastor, já mencionei tantas vezes esse texto para irmãos em sofrimento porque agora o texto se torna tão difícil, tão enigmático?
O que acontecerá após o sepultamento de nosso irmão?
Um título de viúva, filhos órfãos, uma alteração na foto da família, uma mãe que terá sua resposta alterada “tenho 9 filhos, 8 vivos e 1 morto”. Nós, os irmãos, passaremos a dizer “temos um irmão morto”... Todavia, entretanto, em minha face também rolou uma lágrima de esperança.
Lágrima de Esperança
Enquanto minha namorada, Juliana, me abraçava e, sem palavras, tentava me consolar, sentindo minha dor ou escolhendo palavras certas para aquele momento, rolaram em minha face lágrimas de esperança. Lembrei-me de João 11:11, onde Jesus afirma que a morte é apenas um sono. O sono prevê um acordar, um despertar. Haverá um despertar um dia, quando não sei, mas haverá. Talvez as lágrimas do momento nos impeçam de ver, de enxergar esse dia, mas haverá!
Em realidade, Jesus falou de dois despertar. Um para vida eterna e outro para vergonha e horror eterno. Pela primeira vez o texto de João 5:28,29 assumiu um novo significado em minha vida. Instintivamente fui levado a me questionar como pastor e teólogo – em qual ressurreição meu irmão se levantará?!
A primeira ressurreição será a dos salvos. Esta ocorrerá no momento da volta de Jesus. Os salvos ressurgirão com seus corpos glorificados, sem qualquer mancha ou vestígio de pecado. Eles receberão vestes brancas de justiça, coroas de vida eterna, uma pedrinha branca com um novo nome, e o direito novamente de participar da árvore da vida e viver eternamente.
Já a segunda ressurreição, 1.000 anos depois da volta de Jesus, será a dos ímpios (Apocalipse 20:5). Com o mesmo corpo que morreram ressuscitarão para tomar conhecimento do porquê de sua perdição, dobrar os joelhos pela última vez (Romanos 14:11) em reconhecimento ao senhorio de Cristo,e aguardar o desfeche final da história. Lúcifer, o grande originador do pecado, arregimentará homens e demônios para sua última investida – atacar a cidade santa – que esteve no céu por 1.000 anos e agora pousa na terra (Apocalipse 21:2).
Quando Gogue e Magogue, ou seja, todos os perdidos de todas as eras (Apocalipse 20:7-10), forem convencidos por Satanás, iniciarão, sob seu comando, uma marcha pela superfície da terra em direção a cidade santa com a intenção de tomá-la de assalto. Será neste momento que Deus realizará sua obra estranha (Isaías 28:21), o ato de destruir o pecador, Satanás e seus anjos.
Fogo descerá dos céus e os consumirá. O mesmo fogo que põe fim aos pecados e pecadores, purificará esta terra para se tornar a eterna morada dos salvos. Então, e só então, seremos por todos os dias da eternidade uma família que nunca mais derramará lágrimas nem experimentará a dor da separação.
Mas ainda não respondi a pergunta: “Em qual das duas ressurreições despertará meu irmão, João”?
Eu não sei! É difícil assumir isso, mas eu não sei. E somente Deus que nos conhece tão bem tem essa resposta!
A mim, como pastor e irmão, resta o conselho de Paulo: “Consolai-vos uns aos outros com essas palavras” 1 Tessalonicenses 4:18). Palavras de esperança de um reencontro.
Estava rascunhando esse sermão enquanto voava de Montes Claros para Belo Horizonte e depois voaria de Belo Horizonte para Vitória. Enquanto escrevia estas linhas ouvi o comandante anunciar: “em três minutos iniciaremos nossa descida”.
Estava a bordo do vôo TRIP 5575, dentro de poucas horas chegaria ao aeroporto de confins e depois Vitória. Encontraria minha família como nunca dantes e ver o corpo sem vida de meu irmão.
Não mais nesta vida – verei seu sorriso.
Não mais nesta vida – jogaremos bola juntos.
Não mais nesta vida – ouviremos sua voz.
Não mais nesta vida – sentiremos o calor de sua presença.
Não mais nesta vida – verei seu olhar aprovativo.
Um dia cheguei em casa e ele tinha um presente para mim. Eu deveria ter 8 ou 9 anos de idade. Ele havia comprado uma mochila de por nas costas para mim. Até então levava meus 4 livros para a escola em uma sacola de arroz. Me tornei o único garoto na escola com tal mochila.
Nunca também me esquecerei dos desfiles de 07 de setembro. Minha escola, Angelo Zani, ia para a avenida Expedido Garcia, em Campo Grande, e lá, sob os olhares de uma multidão, desfilávamos felizes. Quantas vezes testemunhei seu olhar em minha direção nestas ocasiões. Seu olhar me dizia: “Vai, segue em frente, to com você, parabéns, marcha firme...”.
Foi seu incentivo que me deu ânimo. Se hoje estou cursando um doutorado, é graças a ele, sua força, sua ajuda.
Não mais nesta vida sentirei seu carinho. Nunca me esquecerei quando tive que ir para a Bahia, fazer o vestibular para Teologia. Quando retornei com a notícia que havia sido aprovado, ele se assentou comigo e confidenciou: “Eu estava torcendo tanto que você não passasse”. Isso poderia soar desencorajador se não tivesse vindo dele. Mas eu sabia o que ele estava dizendo. Ele não me queria longe. Ele me queria por perto.
Minhas memórias foram interrompidas pela voz do comandante: “Tripulação, preparar para o pouso”. Era hora de pousar mas a viagem ainda não havia terminado. Deveria descer (Pampulha, BH) para depois subir em direção ao destino final. Me lembrei do Dão.
Ele estará descendo hoje, mas apenas para uma escala. Logo subirá para seu destino final. Ainda não estamos em casa e é lá que as melhores coisas acontecem. “Se preparem para o pouso”, disse o comandante. Estamos aguardando ouvir a voz de outro comandante, Jesus, Ele vai chegar e vai anunciar: Vamos para o lar.
Rola em nossa face uma lágrima de esperança – hemos de ver nosso irmão novamente, daqui a pouco, e as lágrimas nunca mais rolarão.
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